"Um fancês. Um francês? Todos indagaram ao mesmo tempo do pai, que exibia uma carta floreada com sinete de armas em brilhante lacre. Sim, teremos um francês em casa, chamado Félicien de Clavière, disse o pai, pousando o papel sobre a mesa. Um francês vagamundos, metido a homem de ciência, dizem que junta todas as plantas que encontra pela frente." (pg. 09)
Quando fiz minha seleção para o Desafio Literário, a escolha das obras de março foram as que mais me deram trabalho, e minha primeira leitura me deixou com um gosto de decepção neste quesito porque apesar de ser um dos melhores livros que li ainda assim não consegui identificar o traço épico, e foi com uma certa frustração que me lancei à leitura do segundo livro escolhido, mas este me reservou algumas surpresas.
A vida na Estância da Fonte sempre seguiu seu próprio ritmo, ditado pelo Coronel Baltazar Antão Rodrigues de Serpa, mas a chegada do botânico francês Félicien de Clavierè vai subverter a ordem das coisas na casa e no cotidiano dos seus moradores.
Antes da chegada do visitante, Baltazar Antão parte para a guerra e deixa ordens para que o francês seja tratado com o melhor. No entanto sua esposa Micaela decide que não irá receber o estrangeiro, ficando reclusa no quarto, cabe assim aos filhos Isabel e Jacinto fazerem as honras da casa. Mas esta resolução não dura muito tempo e ela acaba não apenas saindo do quarto, como dispensando atenções além das que cabiam à senhora da casa, e assim a trama vai se revelando e junto ela traz a perplexidade diante de tão bela e trágica história.
A narrativa é dividida em quatro novelas, nas três primeiras temos a mesma história vista por três personagens diferentes, na quarta novela as narrativas se fundem e temos então o desfecho desta história rica e intrincada.
Eu gosto muito da escrita do Luiz Antonio de Assis Brasil ele tem uma cadência e um ritmo muito próprios de conduzir a narrativa e foi com conhecimento de causa que me me lancei a esta leitura, mas ainda assim me surpreendi muito, pois a todo momento a leitura tinha ecos de Agamemnon, uma das poucas peças gregas que conheço e isso me deixou um pouco mais motivada com a leitura e esta motivação foi crescendo conforme a história ia se desenrolando.
As personagens criadas são tão humanas que chegam a causar um certo desconforto, uma vontade de entrar na história e por vezes esbofetar Jacinto ou Micaela, que são duas personagens tão ricas psicologicamente que ainda ressoam na minha cabeça, dias e dias depois da leitura.
Confesso que mesmo com todas evidencias apontando para o desfecho que se concretizou eu esperei um reviravolta, e é claro que isso deixou aquele gosto amargo de quando uma história não acaba como esperamos, mas ai é que reside a genialidade do Luiz Antonio de Assis Brasil, se o final fosse o que eu estava esperando a obra não seria grandiosa, densa e encharcada de inquietações, seria apenas mais um romance entre tantos, mas assim sem nenhum vírgula fora do lugar ele é simplesmente magnífico.
Enfim é claro que adorei o livro, é uma história universal vivida por personagens presos nos confins dos pampas onde a análise da complexidade humana através da visão de três personagens distintas nos brinda com uma história de paixões, traições e desejos.
Não posso concluir essa resenha sem citar que me emocionei demais com a dedicatória, datada de 1985:
Para
MOACYR SCLIAR,
escritor de maduro ofício,
amigo constante,
pelo profundo respeito às palavras
e às pessoas que as escrevem.
As vezes vendo seu blog me sinto ignorante em literatura brasileira… Mais um escritor que não conhecia. Vou anotar.
Jura que não conhecia Assis Brasil? Sabe este meu espanto é bem coisa de gaúcho, ele é super conhecido aqui, eu adoro os livros dele se tiveres oportunidade dê uma chance a ele, te indico “Os cães da província”.
estrelinhas coloridas…
Confesso que jamais daria atenção a este livro se eu o visse, mas agora com a sua resenha fiquei muito interessada.
Se eu tiver a oportunidade darei uma anteção especial para este livro.
Beijocas
Vivi
Filmes, livros e séries
Vivi tu dizes por causa da capa? É terrível né? As outras edições são bem mais bonitas, mas o livro em compensação é maravilhoso, fico contente que tu tenhas te interessado por ele.
estrelinhas coloridas…
Eu tambem nao conheco o autor, mas a historia parece ser muito boa. O’tima resenha!! Beijos
Olá Larissa!
Que bom que gostou da resenha, o livro é mesmo muito bom.
estrelinhas coloridas…
Se tem uma coisa que sempre me cativo nos poucos livros brasileiro que já li, é que quase sempre há entre um casal outra pessoa. Amo muito histórias assim . E o livro que você nos cita acima, me parece repleto dessas intrigas. Amei! Com certeza entrara para minha lista de 2011 xD
Bela resenha!
Beijocas
Olá Yuli!
O livro é mesmo bastante carregado, nem tanto por intrigas mas mais pelo carga psicológica. Fico contente que tu tenhas colocado ele na tua lista de leituras, vai ser interessante saber tua opnião sobre ele.
estrelinhas coloridas…
Não o conhecia. Mais uma vez a participação no DL vem nos trazer boas surpresas. A narrativa parece me agradar. E o que dizer de uma dedicatória tão oportuna diante dos últimos acontecimentos. Mi, sempre bendigo a sua participação no DL.
Beijocas
Ah Vivi seus comentários são sempre tão gentis, eu é que sempre bendigo a tua ideia, é uma delícia participar de um desafio tão rico, tão bem organizado e criativo.
estrelinhas coloridas…