O lugar dos livros

Tenho visto muitas ações interessantes que comungam da ideia de que livro é para ser compartilhado, acho muito importante que mais e mais pessoas conheçam estas iniciativas para que elas cresçam cada vez mais, pois assim o livro e mais importante a literatura estarão ao alcance de todos.

Biblioteca Livre Pote de Mel, ou Bibliopote como é mais conhecida, uma iniciativa muito legal do Alessandro Martins do blog Livros e Afins. A Bibliopote é uma biblioteca livre que fica na Panificadora Pote de Mel em Curitiba, lá ninguém precisa de cadastro, ninguém fiscaliza os livros, é só chegar lá pegar um livro e devolver depois de ter lido, simples assim.

Bicicloteca é como o nome já entrega uma biblioteca sobre rodas, ela é itinerante e circula pelas praças do Centro de São Paulo com a missão de levar cultura e leitura para a população de moradores de rua. Aqui é importante ressaltar que dia 21 passado ela foi roubada e está rolando uma mobilização grande para encontrá-la. A editora Melhoramentos vai financiar uma nova Bicicloteca, e tem também uma campanha grande para mais Biciclotecas, se puder contribua. Robson Mendonça é ex-morador de rua e idealizador do projeto.

Little Free Library é uma iniciativa bem legal que espalha pequenas bibliotecas que ficam ao ar livre e em que as pessoas tomam emprestados e deixam livros com toda a liberdade. A ideia é gringa, mas o Alessandro Martins, junto com o fotógrafo Rodolfo Pajuaba construiram a primeira minibiblioteca de Curitiba. Penso seriamente em criar algo assim aqui na cidade onde moro.

Meme Literário 2011

Minha amiga Tatá, a guria que manda e desmanda lá no Happy Batatinha já lançou o chamado para o Meme Literário de Um Mês 2011, que vai rolar em outubro e passa a ser um evento anual. Para saber como participar olha a postagem dela e se joga que é uma delícia responder as perguntas.

As perguntas deste ano são essas:

Dia 01 – Que livro que você está lendo? Sobre o que é? Onde você está? Você está gostando?

Dia 02 – Qual foi o último livro que leu e qual é o próximo livro que lerá? Fale um pouco sobre eles.

Dia 03 – Você lê resenhas de livros? Elas influenciam na escolha de um livro? Ou na opinião que você tinha sobre um livro lido?

Dia 04 – Onde você gosta de ler? No sofá? Na cama? No ônibus? O lugar onde você costuma ler é o lugar onde você gosta de ler?

Dia 05 – Você costuma abandonar a leitura de um livro? Você está no meio da leitura de um livro, só que está odiando. É chato, sem graça, mal escrito… O que faz? Larga-o na mesma hora ou persiste até o final?

Dia 06 – Quem (ou o quê) inspirou seu amor por livros? Conte como foi.

Dia 07 – Você costuma emprestar ou pegar livros emprestados? Sim? Não? Por que?

Dia 08 – Quantos livros você tem? Qual o autor que você tem mais livros? Fale um pouco sobre isso.

Dia 09 – Você costuma ficar com todos os livros que compra? O que faz com aqueles que não gosta? Troca? Dá? Fica?

Dia 10 – Se você pudesse escolher um único livro para ganhar/comprar até o final do ano, qual seria?

Dia 11 – Cite um livro que fez você rir. Fale um pouco sobre ele.

Dia 12 – Se você pudesse conhecer um lugar/mundo que só existe nos livros, qual seria? Por que?

Dia 13 – Se você pudesse trocar de lugar com o personagem de um livro, qual seria? Que história dessa personagem você gostaria de viver?

Dia 14 – Se você pudesse fazer uma pergunta para o seu escritor preferido (vivo ou morto), qual seria o escritor seria e qual seria a pergunta?

Dia 15 – Qual é o seu vilão literário favorito? Por que?

Dia 16 – Cite um livro que você achou que não iria gostar e acabou adorando. Fale sobre ele.

Dia 17 – Cite um livro que você achou que iria gostar e acabou não gostando. Fale sobre ele.

Dia 18 – Você lê livros que não são para sua idade? Como livros infanto-juvenis ou YA para quem é adulto, ou livros adultos para quem é adolescente.

Dia 19 – Qual é o livro que você leu, gostou e recomenda para todo mundo ler também?

Dia 20 – Você gosta de poesias? Qual o seu poeta ou poema favorito?

Dia 21 – Quanto tempo em média você demora para ler um livro?

Dia 22 – Cite um ou dois livros com títulos que você acha interessante. Você costuma escolher livros pelo título?

Dia 23 – Você costumar ler e-books? Ou prefere o bom e velho livro em papel? Por que?

Dia 24 – Você lê um livro por vez ou gostar de alternar a leitura em dois ou mais livros?

Dia 25 – Tem algum livro que você tenha mais de uma edição do mesmo? Se sim, por que?

Dia 26 – Qual o maior (em número de páginas) livro que você já leu? Quanto tempo demorou? Fale sobre ele.

Dia 27 – Você costuma fazer anotações enquanto lê? Se sim, onde? A ideia de fazer anotações no próprio livro lhe assusta?

Dia 28 – O que você faz quando encontra uma palavra que não conhece durante a leitura? Para para procurar no dicionário? Anota para procurar depois? Ou tenta deduzir seu significado pelo contexto?

Dia 29 – Quantos livros em média você costuma comprar por mês? Você costuma comprar livros em sebos, ou prefere as livrarias? Compra muito pela internet?

Dia 30 – Qual foi o último livro que você comprou? Fale sobre ele.

Dia 31 – Qual o livro que você leu esse ano que mais gostou? Fale sobre ele.

O Velho e o Mar

"Tudo o que nele existia era velho, com exceção dos olhos, que eram da cor do mar, alegres e indomáveis"

É muito fácil me sentir intimidada ao escrever sobre um livro que já foi legitimado como obra-prima por muitos infinitamente mais qualificados do que eu, mas ainda assim me sinto impelida a escrever sobre “O Velho e o Mar” de Ernest Hemingway.

Fazem 84 dias dias que Santiago, um velho pescador não consegue pescar um único peixe, desacreditado por seus pares, destituído de seu único ajudante, ele se lança ao mar pelo 85º dia. Mal sabe ele que assim se inicia uma jornada que testará toda sua capacidade como pescador e também como ser humano.

Ele consegue fisgar o maior peixe que já viu, e trava um luta que dura dias para conseguir finalmente abatê-lo com o arpão, mas esta é apenas uma pequena vitória, pois após amarrá-lo no barco ele é perseguido por tubarões que atraídos pelo cheiro de sangue vieram atrás de comida fresca, e é com apenas a carcaça do peixe que ele chega à praia, quando então passa então a ser novamente respeitado pelos outros pescadores.

A narrativa é permeada por um tom de melancolia que chega a doer, os monólogos do velho em alto mar nos dão a exata dimensão da confusão de sentimentos que o tomam. É uma bela ode à persistência, pois sim “O velho e o mar” é antes de tudo um história sobre um homem persistente.

Casa de Escritor

O site The Telegraph fez uma lista com 15 casas de escritores, entre elas a casa de Agatha Christie em Greenway que desde 2009 é aberta ao público. A casa das irmãs Brontë, em West Yorkshire é tão linda que eu moraria fácil, fácil lá, se ela não fosse um museu cheio de relíquias. A casa de Shakespeare como não poderia deixar de ser também aparece na lista, assim como a casa de campo de Virgínia Woolf.

Casa de Agatha Christie

Casa das Irmãs Brönte

Casa de Virgínia Wolf

Lugar Nenhum

"Richard havia percebido que os acontecimentos são seres covardes. Eles nunca acontecem sozinhos: vêm numa matilha, pulando juntos sobre alguém ao mesmo tempo."

Lugar Nenhum não nasceu prosa, nasceu roteiro de uma série de TV, em seis capítulos, Neil Gaiman o escreveu em 1997, para a rede britânica BBC. Depois ela virou História em Quadrinhos e só depois desse longo caminho que virou livro.

A história é centrada em Richard Mayhew, um escocês que vê sua vida virar do avesso depois de ajudar uma desconhecida que encontrou ferida em uma calçada de Londres. Até esta noite ele tinha uma vida pacata, um bom emprego e era dominado pela noiva controladora. Mas após ajudar a jovem Door, ele descobre na manhã seguinte que não tem mais nada. No trabalho ninguém o reconhece, sua noiva até tenta, mas não lembra quem ele é, seu apartamento é alugado com ele dentro da banheira, nem mesmo o caixa eletrônico reconhece seu cartão bancário. Diante desta situação tão bizarra ele parte em busca das estranhas personagens que julga, e de fato são, responsáveis por tudo que está acontecendo com ele, e assim parte para um mundo até então desconhecido: a Londres de Baixo.

Nesta nova Londres ele será confrontado com situações ainda mais bizarras dos que as que o levaram até ali, são tantas informações novas com as quais lidar, que Richard, em uma tentativa de manter um pouco a sanidade começa um diário mental:

"Querido Diário, começou ele. Na sexta-feira eu tinha um emprego, uma noiva, uma casa e uma vida normal (bom, pelo menos até o ponto em que a vida consegue ser normal). Então eu achei uma moça sangrando na calçada e tentei bancar o Bom Samaritano. Agora não tenho mais noiva, casa ou emprego, fico andando a esmo a uns sessenta metros abaixo das ruas de Londres e minha expectativa de vida é tão longa quanto a de uma drosófila suicida."

Uma das coisas que achei interessante no livro é o papel que tem as linhas de metrô, na Londres de Baixo os nomes das estações tem conotações reais, em “Blackfriars” encontramos os monges negros e em “Seven Sisters” existem mesmo sete irmãs. Já uma coisa que me chateou no livro diz respeito à tradução, não gosto quando parte dos nomes próprios ganham traduções e outros não, até entendo os motivos da tradutora para optar por fazer assim, mas continuo estranhando que “Door” seja filha de Pórtico.

Foi impossível ler as aventuras de Richard, Door e do Marquês de Carabas sem me lembrar de outros dois livros, primeiro de Stardust, do próprio Gaiman que também conta com um heróis às avessas, uma menina que cai de paraquedas na vida dele e um mundo paralelo que sempre esteve perto sem que ele tomasse conhecimento disso. O segundo foi Coração de Pedra, de Charlie Fletcher, que além dos elementos acima, também se passa em Londres. As histórias em si são bem diferentes e me agrada descobrir nestas leituras como são múltiplos os olhares sobre uma estrutura tão parecida.

Duas pessoas me disseram que gostei tanto de Lugar Nenhum porque ainda não li as melhores obras em prosa de Gaiman, no caso Deuses Americanos e Os filhos de Anansi, mas fico feliz com isso, mesmo com expectativas altas, adorei a história que para mim é acima de tudo sobre a fantástica viagem que podemos fazer ao mundo de medos e surpresas que há em nós mesmos, e se os outros dos livros ali na fila de espera forem ainda mais legais, só tenho a ganhar 😉

GAIMAN, Neil. Lugar Nenhum. Título original: Neverwhere, tradução de Juliana Lemos. São Paulo: Conrad, 2010.