The Bookshop Band

A The Bookshop Band, formada pelos músicos londrinos Beth Porter, Poppy Pitt e Ben Please é uma banda com uma história incomum: ela teve início quando o proprietário da livraria  Mr B’s Emporium of Reading Delights convidou Ben para tocar na loja, com o objetivo de tornar o tradicional bate papo com autores mais interessante. Como a primeira experiência deu certo Ben convidou os amigos e assim nasceu a banda, que tem em seu repertório apenas músicas inspiradas na literatura.

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“Esse projeto começou simplesmente como um meio de a gente se reunir, escrever algumas músicas sobre livros que amamos e tocá-las em uma livraria para algumas pessoas. Nós nos divertimos muito fazendo isso, e não tínhamos maiores expectativas.” Ben Please


A música que mais me emocinou foi justamente a que é uma declaração de amor às livrarias. A “Shop with books in” foi escrita para apoiar um evento britânico que celebra as livrarias independentes, a Independent Booksellers Week 2012, e tem uma letra que fala direto ao coração dos bibliófilos. Eles também escreveram uma música inspirada no nosso querido Saci Pererê, “Oh Saci” é muito especial também, por motivos óbvios.

A pirâmide vermelha

“… os egípcios acreditam no poder do sol nascente. Acreditam que cada amanhecer marca o início não só de um novo dia, mas de um novo mundo.”

Carter e Sadie Kane são irmãos, e desde que a mãe morreu, eles se veem apenas duas vezes por ano. Ele vive viajando pelo mundo com o pai, o egiptólogo Julius e ela mora com os avós maternos em Londres. Os dois tem muito pouco em comum até mesmo a aparência. A história tem início na véspera do Natal quando Julius decide levar os filhos até o British Museum, prometendo que tudo será melhor, no entanto as coisas não saem bem como ele planejou e os irmãos são lançados em uma aventura recheada de surpresas e perigos.

A narrativa é bem dinâmica e intercala as vozes de Carter e Sadie, permitindo uma visão mais ampla da história mesmo sendo ela narrada em primeira pessoa. O livro tem muitas cenas de ação e é recheado de informações sobre a mitologia egípicia, caracerística já conhecida dos leitores do autor, ele consegue permear a narrativa de informações de forma leve e consistente criando uma história envolvente.

“Nos tempos antigos, a margem leste do Nilo era sempre o lado dos vivos, o lado onde nasce o sol. Os mortos eram enterrados na margem oeste. Era considerado de má sorte, até perigoso, viver lá.”

O grande volume de informações e personagens torna o ritmo da leitura um pouco frenético, queremos sempre saber mais, é o tipo de história que se não ficarmos atentos às entrelinhas perdemos detalhes que são significativos para o desenrolar da história, inclusive quem leu a série Percy Jackson e os Olimpianos, vai identificar muitas semelhanças na estrutura da narrativa, mas isso não desmerece o trabalho de Riordan, pois ele se renovou e criou algo totalmente novo, mas permeado de pequenos detalhes que  seus leitores mais atentos não deixaram passar despercebido 😉

“Então não se pode morar em Manhattan? – disparou.
Amós franziu a testa e olhou para o Empire State.
– Manhattan tem outros problemas. Outros deuses. É melhor mantermos tudo separado.
– Outros o quê? – reagiu Sadie.
– Nada.” pg. 53

As personagens são cativantes e comungam da veracidade como principal característica, todos nós conhecemos uma menina rabugenta e sarcática como Sadie e um menino aplicado e tímido como Carter, mas o mais interessante é que a medida que avançamos na leitura vamos nos aprofundamendo e vendo que esses simulacros nos dizem pouco sobre os dois. Gosto das personagens criadas pelo Riordan, principalmente porque que elas são repletas de nuances, ninguém é totalmente bom, nem totalmente mau, são pessoas com conflitos, muitas atormentadas pelas consequências de suas escolhas e que de alguma forma buscam se redimir. O livro é uma deliciosa caixa de surpresas.

“Para todos os meus amigos bibliotecários,
defensores dos livros, verdadeiros mágicos na Casa da Vida.
Sem vocês, o escritor estaria perdido no Duat.” pg. 6

RIORDAN, Rick. As Crônicas dos Kane – Livro um: A pirâmide vermelha. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.

Essa leitura faz parte do Desafio Literário 2012  cuja temática do mês de Setembro era a leitura de livros sobre Mitologia Universal.

Aqui é possível ler as resenhas dos outros participantes.


Lumos

1 – Clarice, Caio, Marilyn: minhas condolências – Ótima reflexão sobre essa mania de citar autores de forma descontextualizada e sem checar a autoria.

2 – Profissões para mulheres e outros artigos feministas, Virginia Woolf – Resenha fantástica, lá no blog Livros Abertos.

3 – Os melhores livros ficcionais de 2012 – a Revista Bula perguntou para 20 convidados quais foram os melhores livros ficcionais publicados no Brasil em 2012, confira os eleitos.

4 – Philip Roth e o direito de silenciar – Refexão do Gustavo Melo Czekster sobre a decisão do escritor de abandonar a literatura.

5 – Cadê seu agente? – O escritor Juan Pablo Villalobos fala sobre o papel dos agente literários nos Estados Unidos.

Neil Gaiman

Esses dias me dei conta de que geralmente não escrevo sobre meus escritores favoritos aqui no blog, falo dos livros sim, mas não da minha relação de fã, sim eu tenho alguns ídolos literários e resolvi que de vez em quando vai rolar um texto falando deles e é claro que vou começar por Neil Gaiman, nenhuma novidade não é mesmo? 😉

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Eu conheci o Neil Gaiman através do extinto fórum Meia Palavra vi um tópico aqui, outro ali, mas o início foi difícil, vocês não imaginam o choque que foi sair a procura de Sandman e encontrar vários arcos esgotados ou a preços exorbitantes até mesmo para mim que não reclamo de preço de livro. Então eu comemorei feito maluca quando em 2010 soube que a Panini ia lançar os 4 volumes da Edição Definitiva de Sandman, comprei os três que já foram lançados ainda na pré-venda, e eles valeram cada centavo que paguei por eles, pagava de novo e de novo só pelo prazer de reler uma edição tão caprichada.

Mas então que vocês devem estar pensando que eu idolatro o sujeito e só li uma obra dele, é claro que não, pois quem não tem cão caça com gato, e já que eu não tinha Sandman, me joguei na minissérie de 4 espisódios “Os livros da Magia” e pesquisando sobre onde encontrar para comprar acabei descobrindo que tinham acusado J.K. Rowling de plagiar essa série e aí cai de amores de vez pelo Gaimam porque ao invés de entrar numa dessas de brigar para ver quem é mais criativos e coisa e tals, ele fez estas  declarações:

“O arquétipo do jovem feiticeiro tem vários outros precedentes na literatura” .

Alguns idiotas processaram J.K. Rowling (ninguém os contou sobre os Livros da Magia, ou eles me processariam também). Não que eu esteja sugerindo que Tim Hunter  [personagem bruxo de Livros da Magia] seja igual a Harry Potter. Eu nunca acreditei que ela  [J.K.]  os tenha lido. Só estou dizendo que esses idiotas poderiam me processar também.

E eu pergunto tem como não amar um autor que diz isso? Em um mundo meio caótico em que muitos querem mérito por aquilo que outros fizeram me dá um certo orgulho alheio de ver que tem gente que assume sim que se inspira em outras ideias e Gaiman faz isso muito bem, como descobri no seu excelente “O Livro do Cemitério” que é inspirado publicamente em O Livro da Selva, de Rudyard Kipling mas é outra história.

Mas antes de ler  O Livro do Cemitério eu li  Stardust, e tem uma história bem legal porque eu assisti primeiro o filme, o guri que atende na videolocadora que frequento já conhece meus gostos me indicou: ” Ei chegou um filme que tu vais adorar, é fantasia pura” levei e como ele profetizou adorei mesmo, ai fui conferir os extras (amo extras de filme) e quase surtei quando descobri que o filme era baseado em uma história do Gaiman, foi muito lindo ver ele falar das inspirações que o levaram a escrever Stardust:

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“Lembro de duas fagulhas criativas para Stardust. O Povoado de Muralha, a ideia que temos um vilarejo perto de Faire foi metade da inspiração. E aquilo foi mais ou menos em 1988 nas minhas primeiras férias. Minha mulher e eu deixamos nosso filhos e fomos para a Irlanda por uma semana. Em algum lugar de Cork, passamos por um campo com um belo muro, e havia um bruraco no muro, dava para ver um floresta fabulosa pelo buraco. Olhei aquilo e pensei: não seria legal se do outro lado do muro estivesse uma terra mágica com tudo o que você sempre sonhou?

Esse foi o começo.

Depois em 1992 eu estava no deserto, em Tucson no Arizona. Na Inglaterra quando eu era criança quando a gente via uma estrela cadente, era um fiapo de luz. E a gente dizia: “Ah uma estrela cadente!”. No deserto com esse céu de veludo, azul escuro eu vi uma estrela cadente. Eu vi um meteorito. E era o mesmo que ver uma estrela caindo, ver a sequência toda e essa coisa brilhante, feito um diamante, em chamas na sua queda. Fiquei ali olhando a estrela caindo e pensei: daria ara tentar achá-la. De repente, tudo se juntou com a ideia do muro, achei que se caísse do “lado errado” do muro não seria um meteorito, não seria um monte de rocha, seria uma garota. E aí, eu tinha a história.”

É claro que depois de assistir esse video eu preciva ler o livro, e com ele Gaiman foi sendo alçado cada vez mais ao posto de autor predileto, a maneira como ele resiginifica tudo que já foi escrito, e principalmente a forma sincera com que ele lida com suas fontes de inspiração me fazem admirá-lo, mais e mais e mais.

Então veio Coraline. Ah, Coraline! Essa história de dar medo em qualquer um, não apenas nas crianças mas também nos marmanjos simplesmente porque ela mexe com nossos medos mais ancestrais, uma coisa que me faz adorar esse livro é que Coraline é tão corajosa, ela está lá morrendo de medo, mas enfrenta ele mesmo assim, e isso sim é coragem!

Lugar Nenhum foi o primeiro romance adulto do Gaiman que li, e apesar de muitos assegurarem que ele é um livro abaixo dos padrões dele, eu amei, adoro as referências, a maneira como a história vai nos absorvendo que quando nos damos conta já amanheceu e ainda estamos vidrados na história.

Os lobos dentro das paredes entrou na minha vida porque o meu pequeno queria ler uma história de terror, uns dias antes do pedido tinha visto uma resenha sobre o livro e foi uma escolha certeira, que só me fez lembrar o quanto Gaiman é genial, ele consegue escrever para crianças de uma forma tão peculiar, é um autor que respeita as crianças, e também por isso tem meu respeito. E tem uma coisa muito curiosa sobre essa coisa de ídolo: o pequeno meio que já era fã do Gaiman, de tanto me ouvir falar ele já tinha várias referências que com certeza impactaram na leitura que ele fez, e isso ficou bem claro quando em uma ida à livraria ele me diz: “vou conferir se tem algum Gaiman novo na sessão infantil” e foi assim que trouxemos para casa o totalmente  nonsense Cabelo Doido, outra obra pra lá de adorada e encantadora.

Se Coisas Frágeis fosse apenas composto pelos contos “O Problema de Susan” e “O Monarca do Vale” a leitura já teria sido fantástica, o primeiro resignifica o final da personagem Suzana da série “Crônicas de Nárnia” e eu como detestei o destino que C.S. Lewis reservou para ela adorei esse novo olhar, já o segundo porque me apresentou Shadow, mas nem de longe me preparou para o que estava por vir duas leituras adiante.

No meu panteão literário ao lado de Gaiman está Terry Pratchett, sendo assim um livro escrito a quatro mãos pelos dois não poderia me decepcionar e Belas Maldições é um livro tão fantástico e bem humorado que sempre que recordo de uma passagem um sorriso, ou melhor uma gagalhada, brota espontaneamente.

Odd e os gigantes de gelo foi uma surpresa muito doce, sempre me surpreendo com os livros que o Gaiman escreve para o público infanto-juvenil porque sempre encontro neles um respeito à criança que falta a muitos outros autores, ele não nivela os pequenos por baixo, não duvida da capacidade de compreensão delas, escreve com o mesmo apuro que encontramos em sua obra adulta, ou seja amor em estado bruto.

E aí meus caros quando achei que não poderia mais elevar o nível de idolatria eis que me jogo na leitura de Deuses Americanos e o estrago está feito porque simplesmente descubro que sim, eu podia me apaixonar ainda mais pelo Gaiman, depois dessa leitura passei a compreender quando os amigos diziam que eu deveria ler esse livro, que se eu tinha curtido “Lugar Nenhum” eu ia amar Deseus Americanos, eles estavam cobertos de razão, sem sombra de dúvidas uma das leituras mais fantásticas e significativas que já fiz e que recomendo para todos.

Para saber um pouco mais sobre o Gaiman, recomendo com todas as minhas forças o especial que a Lu escreveu lá no Coruja em teto de zinco quente e o artigo que a Núbia escreveu no blog Blá, blá, blá aleatório, na sessão “Escritores de Quinta”, elas são ninjas e conseguem manter o foco sobre os fatos da vida e da carreria dele sem esbarrar, como eu, na idolatria desenfreada 😉

 

Vittorio, o vampiro

“Sim, sou um vampiro, como já disse, sou uma coisa abjeta que se alimenta da vida mortal. Existo com tranquilidade, relativamente contente, na minha terra natal, nas sombras escuras do meu castelo. E Ursula está a meu lado, como sempre, e quinhentos anos não chega a ser tanto tempo para um amor tão forte quanto o nosso.

Apesar da promessa do título e do parágrafo da contra capa, este não é um livro sobre um vampiro, e sim sobre um humano. Narrado em primeira pessoa pelo próprio Vittorio, o livro conta a história de sua vida até conhecer a maldade nua e crua a e acabar seduzido pelo poder daquilo que mais abomina.

A história se passa em plena Renascença e Vittorio é pouco mais que um menino, apaixonado por Florença e por pintura sacra, quando vê sua família ser dizimada de forma brutal por uma seita chamada Corte do Graal de Rubi. Ele sobrevive apenas porque despertou a compaixão de Úrsula, uma das integrantes da seita, mas é capturado e mais uma vez a jovem salva sua vida, no entanto não consegue o livrar o envenenamento.
Após ser abandonado, com o sangue dominado por veneno, delirando,  Vittorio recebe ajuda de anjos para arquitetar e colocar em prática seu plano de vingança. Porém nem tudo sai como ele e seus protetores planejaram e como o próprio título já anuncia ele, enfim, se torna um vampiro.

“Deixe-me colocar as coisas de outra maneira.
Olhe para trás, pense no episódio que narrei, quando meu pai e eu, cavalgando pelas florestas, falamos sobre Fra Filippo, e meu pai me perguntou o que tanto me atraía nesse frade. Disse-lhe que era o conflito e a natureza dividida de de Filippo que tanto me fascinava nele, e que dessa natureza dividida, desse conflito, emanava um tormento que Filippo reproduzia magistralmente nos rostos que pintava.
Filippo era uma tempestade dentro de si mesmo. E eu também.” pg. 203

Esta foi uma leitura interessante, apesar de alguns pontos da narrativa se mostrarem um pouco enfadonhos, os dilemas de Vittorio se mostraram uma surpresa gratificante, ele se mostra inteiro em suas digressões filosóficas e podemos ver o quão atormentado ele é por suas escolhas e ainda assim teve força para assumir a responsabilidade e consequências de seus atos.

RICE, Anne. Vittorio, o vampiro. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

Essa leitura faz parte do Desafio Literário 2012  cuja temática do mês de Agosto era a leitura de livros de terror.

Aqui é possível ler as resenhas dos outros participantes.