O chamado do Monstro

chamadoEu encontrei O chamado do Monstro por acaso, a capa me chamou bastante atenção e depois de ler a contracapa decidi logo que seria minha próxima leitura.
O próprio livro tem uma história curiosa: a ideia original é da Siobhan Down, autora de A carne dos Anjos, que segundo Patrick Ness “criou os personagens, uma presmissa e um começo. Mas não teve, infelizmente, tempo de ir em frente.” Siobham faleceu de câncer e coube a Ness a tarefa de transformar o trabalho dela em um livro.
A história é sobre Conor O’Malley, um menino tímido de 13 anos que tem um vida bastante difícil. A mãe está gravemente doente, o pai mora em outro país com sua nova família, a avó materna é distante, ele sofre bullying na escola.
E além de tudo isso, o monstro aparece.
O monstro é um velho Teixo, que sempre esteve atrás da casa do menino, que subitamente ganha voz e movimento e ele vem atrás do que há de mais ameaçador: a verdade.

Essa é uma história forte, singela, linda e que mexe muito com o leitor. A narrativa é muito bem construída, cada detalhe está ali por que precisa estar. Somos tragados pelos sentimentos desesperadores de Conor e trilhamos com ele uma jornada de crescimento que não tem necessariamente um final feliz, mas indiscutivelmente libertador.
Certamente Jim Kay, o ilustrador da obra, cunhou a definição que mais se assemelha ao que vivenciei com essa leitura:

“Acredite, é uma história memorável. E devo alertar que não se pode controlá-la. Pegue seu livro, se esconda do mundo e se jogue nas engrenagens de um triturador emocional”.

A Editora Ática publicou uma animação muito bonita para o lançamento do livro.

NESS, Patrick. O chamado do monstro. Ilustração Jim Kay. Tradução Antonio Xerxenesky. São Paulo: Ática, 2013.

Diorama literário

Em 2011, o artista inglês Simon Costin recriou uma cidade do século XIX com caixas de papelão para a exposição Dickens & London, no Museu de Londres. Contudo a inspiração do artista não foi uma cidade qualquer e sim a Londres caótica e labiríntica que o escritor Charles Dickens concebeu em seus romances. O resultado foi fantástico e fabuloso, e merece ser apreciado ainda que virtualmente 😉IMG_2662IMG_2646IMG_2662dickens_1_small_0nearly_there4_0386e1bdcb44bf49ee251dd799045f29bIMG_4472IMG_4531

O Circo da Noite

Circo-da-Noite“Alguém precisa contar essas história. Quando batalhas são travadas, vencidas e perdidas, quando piratas encontram tesouros e os dragões comem seus inimigos no café da manhã acompanhados de uma bela xícara de chá, alguém precisa contar as próprias narrativas superpostas. Existe maga nisso. Está nas pessoas que ouvem, e será diferente para cada ouvido, e vai afetá-los de formas que nunca poderão prever. Desde o mundano até o mais profundo. Você pode contar uma história que passe a morar na alma de alguém , se transforme em seu sangue e seu propósito. Essa história vai motivar e impulsionar e quem sabe o que ela poderá fazer por causa disso, por causa das suas palavras. Esse é o seu papel, o seu talento.” Pg. 360

Eu li O circo da noite, por causa da Lu e de um comentário que o Alexandre deixou em um post aqui no blog, e não me arrependi. A obra é bastante singular, o ritmo foge do padrão frenético, alguns podem até argumentar que a narrativa é lenta e sem fluidez, mas para mim isso conferiu uma singeleza e um clima de suspense muito adequado à história.

Célia e Marco tem seus destinos traçados muito antes de se conhecerem, eles são criados por dois mágicos: Hector mentor e pai de Célia e Alexander, mentor de Marco, que os educam única e exclusivamente para participarem de um desafio de magia.

O palco da batalha entre os dois é o Le Cirque des Rêves (Circo dos sonhos), criação do visionário produtor Chandresh Cristophe Lefèvre, ele é concebido para ser um lugar mágico, misterioso e que assombre os espectadores com suas atrações sui generis. Não demora-se muito tempo para perceber que o circo é na verdade o personagem principal dessa história encantadora.

O foco narrativo não fica apenas em Célia e Marco, ou mesmo no circo, ele transita por uma miríade de personagens cativantes, como uma contorcionista japonesa, uma leitora de cartas de tarô, os gêmeos que nasceram no circo, o construtor de relógios e fã incontestável do circo, entre muitos outros. São várias coisas acontecendo ao mesmo tempo, e todas se entrelaçam na tessitura da melodia que embala essa história incomum.

Sem dúvida, O circo da noite é um livro singelo e peculiar que exige uma leitura atenta e apurada, mas que vale por sua aura de magia e extrema delicadeza. Ainda assim, concordo com a Lu e não indicaria a obra indiscriminadamente para todos, mas para alguns pode ser uma bela surpresa.

MORGENSTERN, Erin. O Circo da Noite. Tradução de Cláudio Carina. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012.