Ruínas de Gorlan

Ruínas de Gorlan (Fundamento, 2009, 239 páginas), de John Flanagan é o primeiro livro da série Rangers – Ordem dos Arqueiros e foi escrito para estimular o filho do autor, de então 11 anos a ler, e se passa em um mundo fantástico e medieval onde vive Will.

O garoto sempre sonhou em entrar para a Escola de guerra e se tornar um grande guerreiro para honrar a memória de seu pai e foi com grande decepção que viu seu pedido ser negado, porém Halt o misterioso arqueiro vê no garoto habilidades que podem fazer dele um grande arqueiro, depois de um pequeno teste Will se vê como aprendiz de arqueiro e sua vida segue um rumo completamente diverso daquele com o qual ele sempre sonhou.

Como aprendiz de Halt ele aprende a usar as armas secretas dos arqueiros e se vê mergulhado em muitos mistérios e desafios. As cenas de ação e batalhas são bem descritas e ricas em detalhes que realmente nos transportam para o livro.

A aventura de Will traça uma bela alegoria que nos mostra que mesmo que nossos desejos não sejam alcançados, podemos re-significar nossa vida e ainda que distantes de nossos primeiros sonhos ainda assim encontramos nosso lugar ao sol.

Série Rangers: A ordem dos Arqueiros:

Livro 1 – Ruínas de Gorlan

Livro 2 – Ponte em Chamas

Livro 3 – Terra do Gelo

Livro 4 – Folha de Carvalho

Livro 5 – Feiticeiro do Norte

Livro 6 – The Siege of Macindaw

Livro 7 – Erak’s Ransom

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O jardim de Vênus

O jardim de vênus retrata a vida da condessa Sophie Potocka, desde sua infância como filha de um modesto camponês na Turquia e sua posterior educação como cortesã, chegando até sua entrada na nobreza polonesa.

O romance é ambientado no início do século XIX, e baseia-se na história real de uma das mais célebres cortesãs da Europa, conhecida como “La Belle Phanariote”.

São três os narradores principais e as narrativas se intercalam, a voz de Sofia nos conta o passado da Condessa, as vozes de Rosália e Thomaz nos mostram sua luta contra a doença e seus últimos dias de vida. No início a linearidade das narrativas é um pouco confusa, pois ainda não está claro qual a relação entre as três personagens, depois que esta relação é estabelecida a leitura flui e se torna muito gratificante.

A história tem uma profusão de personagens, de cenários e informações históricas que podem por vezes confusa a articulação entre tantos dados, mas a despeito desta amplitude e da reconstrução meticulosa, livro é antes de tudo, sobre a história de uma mulher que usou todos os artifícios que possuia para não se deixar subjugar por uma sociedade machista e opressora.

Esta leitura faz parte do Desafio Literário, cujo tema do mês de setembro era a leitura de um romance histórico, tu podes conferir as resenhas dos outros participantes aqui.

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Memórias de um diabo de garrafa

Meu diabo é um excelente contador de histórias. Tantos séculos de existência foram suficientes para supri-lo com um estoque aparentemente inesgotável de aventuras. Eis, portanto, a biografia autorizada de uma criatura que privou da companhia de grandes personalidades da História Universal e que acompanhou de perto todas as reviravoltas da humanindade nos últimos quatrocentos e setenta e um anos; alguém que atravessou mares, desertos e cordilheiras e que frequentou palácios, castelos, mansões, bibliotecas, labirintos, camarotes, cozinhas, adegas, porões, masmorras e lixeiras do mundo inteiro, sem jamais ter saído de uma garrafa de pouco mais de litro e meio de capacidade.

Este texto de contracapa me conquistou na primeira vez que o li, na Feira do Livro de 2000, em Porto Alegre, nunca tinha escutado falar do livro, nem do autor, mas aquele texto bem escrito me fisgou, soma-se a ele uma capa caprichada e pronto foi uma das minhas aquisições naquele ano, e foi sem dúvida a mais acertada compra. Sabes quando tu comprar um livro e sente que ele valeu cada centavo? Esse é um dos meus livros que valeram cada centavo do investimento e é uma indicação constante que faço aqueles que querem ler uma excelente obra.

O livro é a autobiografia de Giacomo Lorenzo Bembo, um diabo "conjurado nas ruínas do Coliseu romano, na madrugada de 31 de outubro do ano de 1526 d.C.", pelo escultor e ourives renascentista Benvenuto Cellini (1500-1571). O leitor atento percebe as referências a outras grandes obras já no primeiro capítulo quando o diabo apresenta-se assim: “Chamai-me Giacomo.”

A narrativa se estende por cinco séculos, tempo no qual Giacomo se associa a gente famosa, como o pirata Francis Drake, o violinista Nicolò Paganini, bem como a outras criaturas menos célebres, mas igualmente pitorescas, como Nuno da Silva, marinheiro português do tempo das grandes navegações; Khosr, diabo assírio de mais de 2,5 mil anos de idade; e José Afonso Gonçalves, jovem arqueólogo brasileiro de fins do século passado, envolvido em uma trama de ladrões de casaca no Oriente Médio.

A história é deliciosa, soma uma pesquisa história excelente com um humor refinado e inteligente, nos fazendo mergulhar fundo nas aventuras do pequeno diabo de garrafa.

Memórias de um diabo de garrafa / Alexandre Raposo – São Paulo: Record, 1999.

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A carne dos anjos

A carne dos anjos é baseado em uma história real, que envolve a morte de dois recém -nascido em uma aldeia Irlandesa.

A jovem Shell perdeu mãe, e agora aos 15 anos se vê diante de uma realidade bastante cruel e árdua. Precisa cuidar dos irmãos mais novos, dar conta dos cuidados com a casa e ainda lidar com o pai que se entregou ao sofrimento de tal maneira que não trabalha mais, vive apenas de esmolar em nome da igreja.

A narrativa é primorosa, mas um pouco cansativa pois se estende por muitos capítulos apenas focada nos sentimentos da menina e sua identificação com o novo padre da paróquia, mas depois o ritmo é retomado e percebemos que estamos diante de uma obra única.

Não existem muitas surpresas para o leitor que intuitivamente percebe o que parece estar oculto, mas ainda assim a história é tocante, pois centra-se principalmente nas relações humanas e como vidas podem ser destruídas pela simples falta de comunicação e diálogo. O padre Rose é um personagem gratificante de se ver, porque ele está próximo das pessoas, e traz à narrativa um questionamento muito pertinente: até que ponto podemos ser indiferentes ao outro, até quando nossa indiferença acarretará danos?

Esta leitura faz parte do Desafio Literário, cujo tema de agosto era a leitura de um romance policial, bem quando comprei o livro, a antendente da livraria o indicou como sendo desta categoria, no próprio site do livro também consta esta informação, mas após a leitura eu não o classificaria assim.

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O leitor

Michael tem 15 anos quando conhece Hanna que é 21 anos mais velha que ele, os dois vivem um romance cuja principal marca são pequenos gestos e rituais, como a leitura de clássicos como Goethe e Tolstói. Hanna gosta que o rapaz leia para ela. Este relacionamento deixa marcas que seguirão Michael pelo resto de sua vida, porém um dia Hanna vai embora sem nada explicar.

Os dois só se reencontram sete anos depois, quando Michael, estudante de direito, toma parte em um julgamento de agentes nazistas e descobre que Hanna é uma das acusadas.

A narrativa nos matém atentos e curiosos pelos desdobramentos que virão, há um tensão latente e pulsante que nos impulsiona na leitura e, mesmo que o leitor atento já preveja os acontecimentos após a condenação de Hanna que é embasada no segredo que prefere guardar à ser exposta aos olhos de todos, não conseguimos ficar indiferentes.

É um história tocante e delicada cuja riqueza reside nos detalhes que permeiam toda a narrativa.

Senti em mim um grande vazio, como se tivesse procurado por algum sinal, não lá fora, mas em mim, e me desse conta de que não havia encontrado nada.

Esta leitura faz parte do Desafio Literário, cujo tema de julho era a leitura de uma obra que tivesse sido adaptada para o cinema. Tu podes conferir a resenha ds outros participantes aqui.

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Kafka e a boneca viajante

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Kafka e a boneca viajante nos traz a versão criada pelo escritor espanhol Jordi Sierra i Fabra para um episódio singular da biografia do magistral Kafka.

Um ano antes de sua morte Kafka se dedicou por três semanas a escrever cartas para uma menina desconhecida que perdera sua boneca. Ao vê-la inconsolável diante desta perda ele se transformou no “carteiro de bonecas” e levou religiosamente para a pequena as narrativas da aventura da boneca viajante.

O autor partiu desta história verídica e preencheu as lacunas criando uma fábulo idílica e delicada que encanta e acalanta nossos corações.

As aventuras da pequena Brígida pelo mundo são narradas com maestria e encantam a pequena Elsi, pois vinham também carregadas de carinho.

Na verdade o livro carrega em si duas histórias a verídica e a criada por Jordi e as duas são de uma singeleza ímpar. A “transgressão” como diz o autor de inventar as cartas e dar à história um final imaginário é tão poética quanto a história que lhe deu origem. Sem dúvida uma das mais belas e delicadas histórias já escritas.

O que aconteceu é tão belo em si mesmo que o resto carece de importância.

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O Seminarista

o-seminarista3 O Seminarista é uma história tensa, narrada em primeira pessoa, por José, matador de aluguel conhecido como especialista que decide se aposentar e quando ele acredita estar livre para se dedicar aos livros e filmes suas grandes paixões, seu passado começa a lhe perseguir.

Ex-seminarista, usuário de frases latinas, José é um personagem cativante, é um anti-herói que torce pelo Vasco da Gama, considera o vinho a única bebida digna de acompanhar uma refeição, ouve rock, é apaixonado por poesia e tem um amigo tira de sobrenome Vásquez, e nos cativa a cada linha.

Despido de suas paranóias ele se abre para um  relacionamento com a tradutora Kristen e sua vida segue de maneira diferente do que ele planejou ao se aposentar, mas mesmo assim uma boa vida.

Mas o passado alcança José na figura de “Sangue de Boi’ antigo parceiro que vem leh alertar que estão atrás dele. A trama começa a ficar mais intrincada e cheia de mistério mas a narrativa fluida de Rubem Fonseca nos mantém atentos e tensos a cada página.

O desfecho trágico e verossímel como poucos faz de “O seminarista” um romance imperdível.

Aqui o ótimo video promocional do livro:

 

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=XSwahAokwyA]

 

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A menina que não sabia ler

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A menina que não sabia ler (Leya, tradução de Elvira Serapicos, 2010, 282 páginas), de John Harding é uma surpresa, pois pelo título esperava outro tipo de história, mas foi uma boa surpresa.

A história se passa na Nova Inglaterra de 1891 mais precisamente na decadente mansão Blithe House e é narrado pela pequena Florence que junto com o irmão Giles é criada apenas por empregados com regras ditadas por um tio que nunca se fez presente.

À menina é negado o direito à instrução mas isso não à impede de aprender a ler e a se isolar na proibida biblioteca com suas muitas histórias.

Com a morte da 1ª preceptora de Giles, chega a Blithe House a Srt.ª Taylor e com elas estranhos acontecimentos que despertam em Florence um medo sobrenatural.

O mistério que se apresenta na trama somado ao clima gótico e opressor da narrativa nos evoca muitas dúvidas e questionamentos e o desfecho nos assombra de tal forma que é difícil crer. A despeito do singelo e poético título, A menina que não sabia ler é uma ótima obra de mistério e terror.

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Assassinato no campo de golfe

0-ASSASSINATO_NO_CAMPO_DE_GOLFE_1237255279P Agatha Christie nos traz mais uma aventura do detetive belga Hercule Poirot, desta vez ele é chamado por um desconhecido, P.T. Renauld e parte junto de seu amigo Hastings para a França, mas logo ao chegar descobre que seu contratante foi assassinado.

A trama é como sempre engenhosa, cheia de segredos e reviravoltas. Durante as investigações Poirot ainda se depara com o intragável investigador Giraud que quer a todo custo demonstrar que os métodos de Poirot são ultrapassados, desacreditando-o perante a comunidade policial. Esse clima de tensão entre os dois permeia toda a história, culminando com uma aposta entre os dois: quem encontrar o assassino levará 500 francos. e Giraud acredita já ter pego o assassino, mas obviamente que está enganado, mas nós leitores que acreditamos  já saber a identidade do assassino somos tomados de surpresa com mais uma reviravolta nos acontecimentos.

O intrincado quebra-cabeças criado por Agatha Christie vai sendo montado por Hercule Poirot com maestria de quem sabe fazer um bom uso de sua massa cinzenta e como sempre nos proporciona uma leitura prazeirosa.

Esta leitura faz parte do Projeto Agatha Christie capitaneado pela minha amiga Tatá.

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Nuvens de Magalhães

nuvens Nuvens de Magalhães (Mercado Aberto, 2002, 208 páginas), de Manoela Sawitzki, conta a história da família Magalhães, com um estrutura narrativa que intercala os delírios e divagações da pequena Amarina com a saga da formação do núcleo familiar cujos elos que unem seres tão díspares são feitos unicamente de ódio.

Marília e Bianor gastam a sua existência ruminando o ódio que sentem um pelo outro, ele usando os seus direitos de esposo transformando a vida dela numa constante prisão e ela revida tendo mais amantes que se poderia supor possível para uma moça casada e constantemente vigiada.

A história tem uma influência clara do realismo fantástico, que é bem dosada com figuras como Hipólito Müller e seus pais que sem dúvida poderiam viver em Macondo1 e empregam à narrativa uma pitada de insanidade que permeia a história mas não é o fio condutor dela.

A princípio parece que a personagem principal será Amarina, mas não, o centro da história é sua mãe, Marília, moça linda que é obrigada pelo pai a se casar e diante do inevitável se dedica a odiar o marido de todas as formas possíveis. É pela ótica de Marília que somos conduzidos a maior parte da narrativa.

É uma história interessante que nos mostra o poder destrutivo do ódio cego, da fúria colérica, mas que perde um pouco a força com uma narrativa um pouco confusa no final, mas é acima de tudo uma história sobre pessoas, suas escolhas e suas sinas.

 

São às vezes as galáxias o que aos nossos olhos terrenos não passam de manchas. Tão próximas que nunca alcançamos, de tal modo entre si afastadas as Pequenas e as Grandes Nuvens de Magalhães ligam-se por um estranho bando de estrelas desgarradas, dançando pelo espaço feito uma imensa ponte erguida no vazio.”

 

Nuvens de Magalhães

Esta leitura faz parte do Desafio Literário by RG, cujo tema do mês de junho era a leitura de uma escritora brasileira. Tu podes ver as resenhas dos outros participantes aqui.

 

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