"Uma coisa ele sabia: o mundo real era cheio de mágica, de modo que os mundos mágicos podiam muito bem ser reais" (p.43)
A despeito da desconfiança que tive ao incluir alguns título na minha lista, o Desafio Literário 2012 tem me proporcionado surpresas muito agradáveis, primeiro foi em março com as leituras de O Jardim de Ossos e O Perfume, e agora em abril com a leitura de Haroun e o Mar de Histórias, Salman Rushdie, esse livro estava há dois anos na minha estante, li uma resenha da Izze e fiquei encantada com o que ela escreveu, mas no fim acabou que a obra ficou no esquecimento até agora.
Salman Rushdie escreveu esse livro para o filho mais velho, e como esse menino deve ter gostado da aventura encantadora que seu pai criou.
Nela somos levados ao país de Alefbey mais especificamente para uma cidade tão triste, mas tão triste que esqueceu o próprio nome, mas como toda regra tem uma excessão lá vive a família de Rashid Khalifa, o contador de histórias, ele, sua esposa Soraya e seu filho Haroun são felizes. Porém alguma coisa deu errado.
"No dia em que Soraya parou de cantar no meio de um verso, como se alguém tivesse desligado uma chave, Haroun imaginou que alguma complicação estava começando. Mas ele nem desconfiava o quanto essa complicação era complicada" (pg. 13)
De uma hora para outra Haroun vê sua vida virar de ponta cabeça, e para piorar ele acredita que é culpado de tudo, mal sabe ele que a maior aventura de todas está apenas começando, pois ao se lançar em uma jornada para tentar devolver a seu pai o dom da palavra, ele vai descobrir que os problemas são muito mais profundos e abrangentes do que ele poderia imaginar.
A descoberta da existência de uma terra mágica, onde se localiza o Mar de Histórias, cujas águas fornecem todo estoque de histórias do mundo, faz com que Haroun mergulhe em um mundo fantástico, onde pássaros-aviões falam sem mecher o bico, onde o exercíto é composto por Páginas, e os seres mais fantásticos e interessantes habitam.
"… qual é o sentido de se dar às pessoas Liberdade de Expressão, e depois dizer que elas não devem utilizá-la? E não é o Poder das Palavras o maior poder de todos os Poderes? Então decerto deve ter plenas garantias de exercício." (p.67)
A jornada de Haroun se reveste de fantasia para falar de temas pertinentes e atuais, mas em nenhum momento se torna enfadonha, pois Rushdie sabe como poucos usar as palavras com tal maestria que a narrativa é ao mesmo tempo simples e complexa, os pequenos, ainda sem bagagem para compreender as metáforas se deliciam com a aventura, os mais maduros também, mas com o adcional de perceber a intencionalidade de cada frase sarcástica. Enfim esse é o tipo de livro que torna a tarefa de falar sobre ele difícil que ela mais se paresse com um "PCD+P/EX: um Processo Complicado Demais Para Explicar".
"Pra que servem essas história que nem sequer são verdade? (p.17)
O próprio Rushdie nos responde essa pergunta ao tecer uma trama tão rica e encantadora: servem para que possamos manter acesa dentro de nós a chama que nos ajuda a seguir em frente.
RUSHDIE, Salman. Haroun e o Mar de Histórias. Paulicéia: São Paulo, 1991.
Essa leitura faz parte do Desafio Literário 2012 cuja temática do mês de abril era a leitura de autores orientais.
Aqui é possível ler as resenhas dos outros participantes.