A estante de hoje é em homenagem ao dia das crianças. É um projeto muito legal, pois os pais do guri aproveitaram aqueles armários embutidos, bem típico de casas americanas e fizeram uma biblioteca lá dentro 🙂
Mais uma vez, Gaiman marca o retorno do blog!
Dessa vez a obra é “Os filhos de Anansi”, que como o título direto e conciso já entrega, conta a história dos filhos de Anansi, o deus aranha. Para quem já leu “Deuses Americanos”, Anansi já é um velho conhecido, mas agora o foco são seus filhos.
Começamos conhecendo Charlie Nancy, ou melhor Fat Charlie, que em busca de um rompimento total com o pai, muda-se para Londres, onde leva uma vida discreta e pacata, trabalhando como contador e dedicando-se aos preparativos de seu casamento com Rosie.
A morte do pai desencadeia acontecimentos que tornam a vida de Charlie um verdadeiro caos, primeiro ele descobre que seu pai é um deus, e logo depois que tem um irmão, Spider.
Gaiman, como sempre é brilhante na construção da história, ele consegue misturar de tudo e mais um pouco em um livro sem que ele fique parecendo um samba do crioulo doido. Bem pelo contrário, é um leitura fluída e que prende pela riqueza de detalhes.
Uma das características que mais me fazem morrer de amores pela escrita de Gaiman é a capacidade que ele tem de permear o trivial com o fantástico. De nos pegar pela mão e ir descortinando o cotidiano, de nos fazer acreditar que a magia está mesmo em tudo.
O humor tipicamente inglês de Gaiman está a toda em “Os filhos de Anansi” e isso torna a leitura ainda mais deliciosa. As risadas são garantidas com sacadas inteligentes e diálogos extremamente bem construídos e divertidos.
Enfim, mais uma obra do Gaiman que indico com todas as forças.
Todas as histórias são de Neil Gaiman!
Pois é, depois de um hiato de mais de um ano, eis que ressurjo das cinzas e pretendo retomar as postagens no blog.
Este ano sabático foi involuntário, mas foi de grande utilidade, pois esse distanciamento me fez perceber o quanto ainda gosto de escrever sobre livros, literatura e tudo mais.
Agradeço o carinho dos leitores que de vez em quando aparecem por aqui, deixam comentários, me mandam e-mail, mensagem no facebook e me perguntam se vou voltar. Sim pessoal, voltei e agora é pra ficar 😉
Depois de dois anos sem jogos, dia 13 de agosto está de volta a Copa de Literatura Brasileira. Este ano a disputa conta com 16 romances publicados em 2011 e 2012. A quinta edição do torneio tem como novidades as rodadas extras, uma de repescagem e outra chamada rodada zumbi para permitir uma nova chance aos livros que perderem na primeira fase, e as “mesas redondas” para cada rodada da Copa.
A Copa de Literatura foi criada em 2007, pelo economista e preparador editorial Lucas Murtinho. Sua inspiração foi o Tournament of Books, criado em 2005 pela revista eletrônica americana The Morning News em parceria com a livraria Powell’s.
Para saber mais e acompanhar as partidas confira o site da Copa de Literatura Brasileira.
Ainda embriagada com a leitura de O oceano no fim do caminho, descobri algumas coisas bem interessantes sobre o livro para compartilhar por aqui:
1 – A prefeitura de Portsmouth (Inglaterra), onde se passa a história quer batizar uma rua com o nome do livro. A cerimônia de batismo deve ocorrer em 18 de agosto com a presença do próprio Gaiman. (Omelete)
2 – “Para Amanda, que queria saber”, essa é a singela dedicatória do Gaiman no início do livro, para quem quiser saber o significado e a força dessas palavras, vale a pena conferir a postagem da própria Amanda Palmer. (Blog da Amanda, em inglês)
3 – O Reinaldo, postou no excelente blog Darwin e Deus, uma entrevista de aquecer o coração dos fãs e nos fazer morrer ainda mais de amores pelo Gaiman, simplesmente imperdível. (Darwin e Deus)
“No meu sonho, aquela era a lígua do que é, e tudo o que fosse falado nela se tornava realidade, porque nada dito com ela pode ser mentira. A língua é o fundamento da construção de tudo.” (p. 56)
Depois de dez anos, eis que surge um novo romance adulto do Gaiman, confesso que esperei pelo lançamento como se não houvesse amanhã 😉
Um leitor mais aplicado e que acompanha a obra de Gaiman facilmente encontra familiaridade com as referências presentes na história, o próprio Gaiman já falou em entrevistas sobre as ligações entre seus livros, e é sempre muito gratificante perceber o poder que ele tem de reinventar e articular o mesmo universo literário em histórias tão diferentes.
O oceano no fim do caminho tem um protagonista sem nome, que aos 47 anos retorna a sua terra natal para um enterro, e se vê recordando uma história há muito enterrada nas profundezas do seu subconsciente.
Somos sugados para as lembranças desse homem e a partir de então, vemos tudo sob a ótica de um assustado menino de 7 anos, que vê seu mundo ser povoado de acontecimentos e criaturas pertubadoras.
Gaiman é um mestre da escrita, sim isso soa um clichê, mas nem por isso deixa de ser visceralmente verdadeiro, poucos autores que li, conseguem fazer o que ele faz. Ele cria um universo onírico em que não sabemos mais se estamos apenas presenciando a explicação criada pela mente de uma criança para elaborar acontecimentos terríveis ou, se o horror mágico é mesmo real, o que é extremamente inquietante, porque na verdade as duas possibilidades são essencialmente perturbadoras.
A angústia é um sentimento constante durante a leitura, assim como a sensação inquietante de sentir-se encurralado e sem perspectivas. Contudo, a melancolia é pungente e sentimos que mesmo perturbado pelas lembranças, o menino sente uma nostalgia por tudo que viveu.
Enfim, Gaiman mais uma vez me surpreendeu e me fez amá-lo ainda mais, este é, como ele mesmo define, um “um livro sobre o poder que as histórias fornecem para enfrentar a escuridão dentro de cada um de nós.”
GAIMAN, Neil. O oceano no fim do caminho. Tradução de Renata Pettengill. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013.