O segredo de Shakespeare

"… a história do garoto de Stratford ilustra uma questão de grande importância: a genialidade pode surgir em qualquer lugar. Qualquer um pode ser grande.”

Kate Staley, uma estudiosa de Shakespeare que largou a vida acadêmica para ser diretora de teatro, está prestes a estreiar Hamlet no Globe em Londres que é uma cópia do teatro medieval de Shakespeare, quando recebe a visita de sua antiga orientadora Roz, com quem teve um desentendimento. A visita de Roz não é mera casualidade, ela diz a Kate que descobriu algo e que precisa de sua ajuda, as duas marcam um encontro em outro local, mas a orientadora é assassinada antes que possam se falar, e o Globe é incendiado assim Kate se vê jogada em uma aventura, com direito à perseguição policial e um lastro de incêndios e assassinatos.

Me interessei por este livro porque é sobre o bardo, conheço superficialmente a sua obra, mas sempre tive vontade de aprender mais sobre ele. O pouco que eu conhecia se resumiam nas teorias Oxfordianas de que Shakespeare é na verdade é Edward de Vere, 17º Conde de Oxford e o genial jogo de palavras com os quais ele brincava em seus sonetos.

A história é bem ao estilo dos thrillers históricos como Código da Vinci, uma trama intrincada de mistérios que vão se encadeando ao longo da narrativa, a qual achei um pouco enfadonha em alguns pontos, principalmente na história paralela que entremeia a ação nos dias atuais. Várias “viradas” na história são desnecessárias e a tornam cansativa, mas mesmo assim o livro prende a atenção. Para quem como eu conhece pouco do contexto histórico da vida e da obra de Shakespeare o livro pode parecer confuso tamanha a quantidade de informações e referências, mas ainda assim a leitura é uma boa diversão.

Casais apaixonados, por livros

Alguns casais além de apaixonados um pelo outro, também compartilham a paixão pelos livros, e na hora de dizerem sim, alguns deles incluem essa paixão na cerimônia e na festa, é uma forma de imprimir a personalidade do casal este momento especial. Já outros que não tem a oportunidade de se casarem em uma biblioteca, fazem ensaios fotográficos entre os livros.

Cartas a um jovem poeta

Paris, fevereiro de 1903. Rainer Maria Rilke (1875-1926) recebe uma carta de um jovem chamado Franz Kappus, que aspira tornar-se poeta e que pede conselhos ao já famoso escritor. Tal missiva dá início a uma troca de correspondência na qual Rilke responde aos questionamentos do rapaz e, muito mais do que isso, expõe suas opiniões sobre o que considerava os aspectos verdadeiros da vida. A criação artística, a necessidade de escrever, Deus, o sexo e o relacionamento entre os homens, o valor nulo da crítica e a solidão inelutável do ser humano: estas e outras questões são abordadas pelo maior poeta de língua alemã do século XX, em algumas das suas mais belas páginas de prosa.

Comecei a escrever esta resenha no mínimo umas vinte vezes e as palavras sempre me parecem inadequadas, pequenas diante desta obra. É difícil falar de um livro que em 90 páginas diz tanto. Muitos dos que leem o blog há mais tempo sabem da minha antipatia pelos títulos de autoajuda e vejam só este livro passa bem longe deste gênero, mas encontrei nele reflexões tão pertinentes que para pessoas como eu, ele se configura em um livro que ajuda a encontrar o conforto de não se sentir só, pois o poeta com suas palavras nos instiga a abraçar os questionamentos que fatalmente não tem respostas.

“Sinto que nunca um homem poderá dar uma resposta às perguntas e aos sentimentos que têm vida no fundo do seu ser. (…) Peço-lhe que tente ter amor pelas próprias perguntas, como quartos fechados e como livros escritos em língua estrangeira. Não investigue agora as respostas que não lhe podem ser dadas, porque não poderia vivê-las. E é disto que se trata, de viver tudo. Viva agora as perguntas. Talvez passe, gradativamente, a um belo dia, sem perceber, a viver as respostas.”

O livro conta com uma edição caprichada da L&PM, com direito à resumo biobibliográfico e também uma apresentação que contextualiza a obra, facilitando a leitura até mesmo para aqueles que não conhecem a obra de Rilke. Esta leitura figura entre as que considero fundamentais para qualquer leitor, e é claro recomendo a todos.

RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. Tradução de Paulo Sussekind. Porto Alegre: LP&M, 2007. (Coleção LP&M Pocket Plus).

Esta leitura é a terceira dentro da temática Biografias e/ou Memórias que corresponde ao mês de fevereior para o Desafio Literário 2011 e com ela eu cumpro a minha meta deste mês, e que venham as leituras de março!

A escrita de um homem só

“Tu usas a imaginação para completar as lacunas da tua vida, prover explicações para as coisas que não entendes, traçar caminhos, entender o passado.”

Que deleite poder ler esta biografia de Moacyr Scliar, faziam 5 anos que ela estava aqui na estante e sempre postergava a leitura. O livro me encantou por ser escrito em capítulos bem diferentes entre si, o que confere à obra uma cadência de leitura muito fluída e dinâmica. O primeiro capítulo, denominado diálogos é uma entrevista em que o autor fala do processo criativo, da leitura no Brasil, sobre a Academia Brasileira de Letras, foram as respostas sobre esta temática que mais me encantaram, descobrir que um autor que eu já admirava pela obra também tinha ressentimento pelo fato de Mário Quintana não ter sido eleito foi digamos, reconfortante, e a admissão pública de que aceitou concorrer a uma vaga na ABL por pressão, por causa do movimento para colocar um gaúcho lá, fez com que eu o admirasse ainda mais. Entendemos também a influência de sua carreira de médico em sua vida pessoal e em sua escrita.

"Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que "baixa" no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas — o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente".

O segundo capitulo é um linha do tempo sobre a vida e as principais obras e prêmios de Scliar onde podemos conferir que o judaísmo representou um papel muito importante na obra dele. O terceiro capítulo é um ensaio entitulado Moacyr Scliar: tradição e renovação, escrito pelo Dr. Flávio Loureiro Chaves.

O capítulo 4 é a bibliografia do autor e sobre o autor e caramba ela dá uma dimensão exata do quão prolífico Moacyr Scliar é. são mais de 80 livros publicados entre contos, crônicas, ensaios, romances e infanto-juvenis. O capítulo 5 traz uma amostra do talento do escritor em três ótimos contos e o livro se encerra com depoimentos sobre o autor no capítulo 6, dentre os quais o mais emocionante e pungente é o de seu filho, Beto Scliar:

“Nunca entendi direito porque na escola todos se impressionavam quando falavam de Moacyr Scliar. Pra mim ele era simplesmente uma pessoa normal com um trabalho normal.

Ao longo dos anos, comecei a acompanhar silenciosamente o trabalho desse cara, às vezes médico. Comecei a entender a importância do Doutor Moacyr todas as vezes que eu ficava doente.

O Moacyr escritor veio ainda na época de colégio, quando eram obrigatórios os livros dele, aí descobri o Moacyr escritor, com O tio que flutuava. Foi nesse momento que aprendi a gostar de literatura.

O Moacyr da coluna semanal no jornal descobri aos poucos pelos comentários diários vindos de pessoas diferentes, que nem conhecia… Seus textos traziam denúncias, dicas de saúde e vários textos engraçados para divertir seus leitores.

Hoje parei para pensar… este Moacyr… é o meu pai!”

Moacyr Scliar: A escrita de um homem só. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2006. (Coleção Autores Gaúchos)

Esta leitura é a segunda dentro da temática Biografias e/ou Memórias que corresponde ao mês de fevereiro do Desafio Literário.

Lumos

# lumos maxima

1 – 21 dicas para conservar seus livros e sua biblioteca – No blog Livros e Afins

2 – Aquelas resoluções impossíveis de ano novo – texto excelente do Joca Reiners Terron na estréia de sua coluna no blog da Cia das Letras.

3 – O escritor e Seus Fantasmas – Kovacs fala do livro em que Ernesto Sabato reflete sobre o ofício do escritor, no sempre excelente Mundo de K.

4 – 10 livros que se tornaram filmes e estarão nos cinemas em 2011 – No blog Listas Literárias.

5 – Os Gatos, T.S. Eliot – Anica fala do livro que inspirou o musical Cats e também porque escolheu essa obra para a biblioteca do pequeno Arthur.

# nox

A arte escondida nos livros

Mais um artista que transforma livros descartados em arte, Alexandre Koerzer-Robinson faz um meticuloso trabalho de recorte que preserva apenas as ilustrações originais das folhas dos livros, todo texto é descartado. Depois desta etapa ele lacra o livro e o resultado é uma pequena escultura bastante peculiar.

Me encantei por este trabalho, os mais puristas podem se chocar, mas o artista usou por exemplo uma tradicional enciclopédia alemã com dados desatualizados, dando à elas um fim bem mais nobre que a fogueira ou o lixo.

"Através do trabalho artístico, esses livros, tendo arrancandos seus aspectos utilitaristas pela passagem do tempo, ganham um novo propósito. Eles não são mais ferramentas para aprender sobre o mundo, mas um meio um indivíduo ganhar um insight de si mesmo." Alexandre Koerzer-Robinson

O Diário de Hélène Berr

Hélène Berr é uma francesa nascida em 1921, filha de Raymond Berr, vice-presidente da empresa química Kuhlmann e de Antoinette Rodrigues-Ély. Os três foram vítimas do holocausto, a mãe foi assassinada assim que chegou a Auschwitz; o pai foi morto em setembro de 1944, envenenado pelo médico que o atendeu na enfermaria de Auschwitz-Monowitz. Sua morte figura na obra de David Rousset, “Les Jours de Notre Mort” (Os dias de nossa morte).

Hélène morreu em abril de 1945 em Bergen-Belsen, depois de ter participado da chamada “marcha da morte” que a transferiu de Auschwitz para o outro campo. Não se sabe se morreu de uma surra ou de tifo. Em todo caso, foi poucos dias antes da chegada das tropas britânicas ao campo de concentração.

Entre 7 de abril de 1942 e 15 de fevereiro de 1944, Hélène manteve um diário, cujas palavras traçam um retrato de como foi a ocupação nazista de Paris. Ela confiou estas páginas à cozinheira da família, Andrée, com a promessa de que esta as faria chegar ao seu noivo, Jean Morawiecki, um rapaz que se envolveu na Resistência e que, como soldado, participou do desembarque na Provence e mais tarde da liberação de campos de concentração na Alemanha.

Ninguém se lança à leitura de uma obra sobre a Segunda Guerra Mundial pensando que será uma experiência fácil e agradável, mas mesmo assim me surpreendi com o livro. Hélène não nos fala dos campos de concentração, ela vai pouco a pouco, as vezes até com certa relutância traçando um cenário em que podemos perceber todo o terror psicológico que precedeu as mortes em massa, como os judeus foram sendo despidos de todos os traços de dignidade.

As primeiras prisões, a obrigatoriedade do uso da estrela amarela, as limitações para comprar até mesmo alimentos vão permeando a narrativa que a princípio não parece se desenrolar em uma Paris ocupada, Hélène frequenta a Sorbonne, faz seu trabalho como bibliotecária voluntária, vai a concertos, à casa de campo em Aubergenville, mas a medida que os dias vão se somando, o horror vai se descortinando, e deixando um sabor de perplexidade, a mesma perplexidade que toma conta de Hélène diante de tantas atrocidades, de tanta intolerância.

O diário de Hélène Berr compartilha conosco desespero e força, é fácil perceber a luta interna que tanto lhe inquietava, abrir mão de fugir para salvar a própria vida e ajudar outros não lhe isentava das dúvidas, ao contrário a lançava em uma tormenta de emoções.

“Por alguns momentos, o sentido da inutilidade de tudo isso me paralisa. Às vezes me questiono e penso que esse sentido da inutilidade não passa de uma forma de inércia e de preguiça, pois diante de todas essas ponderações se ergue um motivo maior que, se eu me convencer de sua validade será decisivo, tenho um dever a cumprir escrevendo, pois é preciso que os outros saibam. A todo momento, durante o dia, repete-se a dolorosa experiência que consiste em perceber que os outros não sabem, que nem sequer imaginam o sofrimento por que outros homens estão passando e o mal que alguns estão infligindo a outras pessoas. E sempre faço esse penoso esforço de contar. Porque se trata de um dever, talvez o único que eu possa cumprir.”

Enfim, a leitura do diário de Hélène foi uma experiência muito intensa e como ela difere de outras obras que já li e que retratam as atrocidades cometidas nos campos de concentração, nos dá uma outra dimensão para a temática enriquecendo e ampliando a compreensão do quão cruel e atroz é essa página da história.

Hélène Berr e Jean Morawiecki

O Diário de Hélène Berr: um relato da ocupação nazista de Paris. [Prefácio de Patrick Modiano] Tradução Bernardo Ajzenberg. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008

Esta leitura foi a primeira do mês de fevereiro, no Desafio Literário, cujo tema é Biografias e/ou Memórias.