Travessuras da menina má (Alfaguara, tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht, 2006, 302 páginas), de Mario Vargas Llosa, é uma história de amor, um amor doentio é verdade, mas mesmo assim amor.
A narrativa se estende pela segunda metade do século XX e nos leva do Peru à Paris, Londres, Tóquio e Madri sempre no encalço dos encontros e desencontros de Ricardo Somocurcio e da menina má, nos anos 50 quando os dois se conhecem ela se chama Lily e é uma pequena ‘chilenita’ que perturba a paz das ordeiras e recatadas famílias do bairro de Miraflores, em Lima.
Na década de 60, Ricardo realiza seu sonho de morar em Paris, onde trabalha como tradutor na UNESCO, leva uma vida pacata e tranquila, mas auxiliar um amigo, com um grupo de jovens peruanos que se alistaram no MIR, grupo revolucionário que desejava dar um golpe de estado semelhante ao de Fidel no Peru, ele acaba encontrando a camarada Arlette, que não é ninguém menos que a Lily da sua infância. Com a partida da menina má para Cuba, Ricardo mergulha cada vez mais no trabalho e depois tem apenas notícias desencontradas sobre a guerrilheira e qual não é a sua surpresa quando a reencontra, em pleno saguão da UNESCO, casada com um diplomata francês e agora se chamada de madame Robert Arnoux. Mais um capítulo desta conturbada história se escreve em meio a furtivos encontros, que são bruscamente interrompidos por mais um sumiço da menina má.
Levado a Londres, nos anos 70, por causa seu trabalho, Ricardo tem mais um encontro emblemático com a menina má, que agora se chama Mrs. Richardson, e assim mais um longo pedaço desta história pra lá de perturbadora se escreve.
Depois de mais uma partida da menina má, Ricardo como sempre se joga no trabalho, e volta a sua rotina que é interrompida quando recebe carta de um amigo que está na no Japão que vem com um post scriptum assinado pela menina má. Ele se esforça até o limite e consegue ir para o Japão e lá se depara com uma ‘japonesinha’ chamada Kuriko que nada mais é do que escrava do pavoroso Senhor Fukada, em uma relação ainda mais doentia da que ela tem com Ricardo.
Chocado com tudo que vivencia em Tóquio, Ricardo volta à Paris disposto a esquecer a menina má e realmente se empenha, mas assim que ela volta a Europa, doente física e mentalmente, ele emprega todos os seus esforços em curá-la, inclusive se casa com ela, para que ela possa ser legalmente uma cidadã francesa, só para mais uma vez ser abandonado por ela.
O último encontro dos dois se dá em Madri, nos anos 90, para onde Ricardo se mudou com a jovem Marcella, uma doce italiana muito mais nova que ele. Ao descobrir que a jovem se apaixonou por um colega de teatro, Ricardo reencontra uma colérica menina má, injuriada com a “traição” de Ricardo ao se apaixonar por outra.
A menina má está gravemente doente, em fase terminal e quer passar seus últimos dias com Ricardo e assim mais uma vez vemos os dois se envolverem nessa teia emaranhada de emoções indefiníveis e que fazem deste romance uma obra perturbadora e ainda assim maravilhosa.
Llosa criou uma história que ecoa em nossas mentes dias depois de terminada a leitura, ela fica lá martelando, imagens mentais deste romance vão e vem com uma facilidade incrível, hora odiamos a menina má com todas as nossas forças, como pode ser tão cruel com quem só lhe fez bem, é pergunta mais que recorrente, hora odiamos a palermice de um apático Ricardo que se deixa manipular em nome do amor. Enfim é um romance ao qual não podemos ser indiferentes.
Esta leitura faz parte do desafio literário, cujo tema de maio era a leitura de um autor latino-americano. Para conferir as resenhas dos outros participantes é aqui.
estrelinhas coloridas…