
Meu diabo é um excelente contador de histórias. Tantos séculos de existência foram suficientes para supri-lo com um estoque aparentemente inesgotável de aventuras. Eis, portanto, a biografia autorizada de uma criatura que privou da companhia de grandes personalidades da História Universal e que acompanhou de perto todas as reviravoltas da humanindade nos últimos quatrocentos e setenta e um anos; alguém que atravessou mares, desertos e cordilheiras e que frequentou palácios, castelos, mansões, bibliotecas, labirintos, camarotes, cozinhas, adegas, porões, masmorras e lixeiras do mundo inteiro, sem jamais ter saído de uma garrafa de pouco mais de litro e meio de capacidade.
Este texto de contracapa me conquistou na primeira vez que o li, na Feira do Livro de 2000, em Porto Alegre, nunca tinha escutado falar do livro, nem do autor, mas aquele texto bem escrito me fisgou, soma-se a ele uma capa caprichada e pronto foi uma das minhas aquisições naquele ano, e foi sem dúvida a mais acertada compra. Sabes quando tu comprar um livro e sente que ele valeu cada centavo? Esse é um dos meus livros que valeram cada centavo do investimento e é uma indicação constante que faço aqueles que querem ler uma excelente obra.
O livro é a autobiografia de Giacomo Lorenzo Bembo, um diabo "conjurado nas ruínas do Coliseu romano, na madrugada de 31 de outubro do ano de 1526 d.C.", pelo escultor e ourives renascentista Benvenuto Cellini (1500-1571). O leitor atento percebe as referências a outras grandes obras já no primeiro capítulo quando o diabo apresenta-se assim: “Chamai-me Giacomo.”
A narrativa se estende por cinco séculos, tempo no qual Giacomo se associa a gente famosa, como o pirata Francis Drake, o violinista Nicolò Paganini, bem como a outras criaturas menos célebres, mas igualmente pitorescas, como Nuno da Silva, marinheiro português do tempo das grandes navegações; Khosr, diabo assírio de mais de 2,5 mil anos de idade; e José Afonso Gonçalves, jovem arqueólogo brasileiro de fins do século passado, envolvido em uma trama de ladrões de casaca no Oriente Médio.
A história é deliciosa, soma uma pesquisa história excelente com um humor refinado e inteligente, nos fazendo mergulhar fundo nas aventuras do pequeno diabo de garrafa.
Memórias de um diabo de garrafa / Alexandre Raposo – São Paulo: Record, 1999.
estrelinhas coloridas…














