Santô e os pais da aviação

“Santô e os pais da aviação: a história de Santos Dumont e de outros homens que queriam voar” é uma HQ deliciosa e como é baseada em uma caprichada pesquisa histórica, deixou de lado o tom ufanista com o qual nós brasileiros costumamos falar sobre a história da aviação. Para mim sem dúvida esse é o grande trunfo da obra, pois essa característica de enaltecer Santos Dumont como único “pai” da aviação, presente nas biogafias que li sempre me incomodou, e Spacca traz à luz a contribuição dos pioneiros, inclusive dos odiados irmãos Wright para o desenvolvimento da aviação.

“Agradecimentos
[…] Jacqueline Brendel, bisneta de Emmanuel Aimé. Pedi a mlle. Brendel que me enviasse pela internet uma fotografia de seu bisavô, um colaborador de Santos-Dumont pouco mencionado pelos biógrafos brasileiros e nunca identificado nas fotos. Não só tive uma ótima acolhida, como fui abastecido de recortes de jornais, fotografias de família e informações inéditas, o que causou mudanças importantes de roteiro com o trabalho já em fase de finalização.Esse novos dados serviram ainda para ajudar a identificar com mais precisão algumas fotografias que eu já conhecia. Sem sua ajuda, este livro seria apenas uma reciclagem criativa de material já publicado. Espero ter correspondido à sua generosidade e entusiasmo. (pg. 4)

A obra começa com um ótima introdução que instiga a curiosidade do leitor e o leva a mergulhar nas próximas páginas ávido conhecer melhor as figuras apresentadas. O desenrolar da história é muito interessante mesmo para quem já leu outras biografias de Santos Dumont, por que apresenta elementos novos e uma perspectiva nova sobre a vida de Santos Dumont e dos outros pioneiros da aviação. E o final mesmo já sendo conhecido desde o início, supreende pelo lirimos com que o autor o retrata.
Não possuo conhecimento aprofundado sobre a nona arte para tecer comentários críticos, mas como leitora leiga posso dizer que Santô tem uma arte agradável e bem acabada, assim como a edição caprichada da Companhia das Letras, é uma obra apaixonante que pode ser lida por todos com o mesmo deleite.

“eu lhe dou o futuro… esta é a sua parte na herança,
vá para Paris, estude mecânica…
o futuro está na mecânica…” (pg.14)

SPACCA. Santô e os pais da aviação: a jornada de Santos-Dumont e de outros homens que queriam voar. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

No site do autor é possível ler um pouco mais sobre o processo criativo desta excelente obra.

Essa leitura faz parte do Desafio Literário 2012  cuja temática do mês de Outubro era a leitura de  Graphic Novel.

Aqui é possível ler as resenhas dos outros participantes.

Maya

” – Qual é então a finalidade da vida?

– Já disse que não sei. Só digo que o Universo não carece de sentido. A evolução da vida na Terra é um processo muito mais espetacular do que o mito de criação mais grandiloquente.” (pg. 285)

Faz anos que Maya, do Jostein Gaarder me espreita na estante, pelo menos uns 9 anos, simplesmente porque eu sempre me senti um pouco intimidada pela temática do livro, que gira em torno das eternas perguntas: Quem sou eu? Qual o objetivo da minha existência? Não sei bem porque desse sentimento até porque já li várias obras do autor e gostei de todas elas, Gaarder tem um estilo de escrita que me agrada muito, ele consegue criar uma estrutura ficcional fantástica e a usa para refletir sobre questões fundamentais da humanidade, que no caso de Maya é a origem do Universo e da vida.

Para dar conta de refletir sobre um assunto tão complexo o autor dá voz a um paleontólogo norueguês, um casal de espanhóis e um escritor inglês. O ano em que se inicia a narrativa é 1998, e os quatro estão em Taveuni, uma pequena ilha da República das Ilhas Fiji, que supostamente será o primeiro lugar do planeta a adentrar o novo milênio. A interferência de uma salamandra que todas as noites sobe na garrafa de gim de Frank e começa repreende-lo pela maneira como os seres humanos, ou melhor os primatas da sua laia, agem como se quisessem com todas as forças destruir o planeta, é hilariante, os diálogos filosóficos entabulados pelo palentólogo e pelo anfíbio fazem a leitura leve e divertida.

“Quando cai a noite, por volta das seis da tarde, a palavra viva passa a ser protagonista. Talvez uma pessoa tenha estado pescando, talvez outra tenha tido uma experiência nos bosques profundos, uma terceira pode ter topado com um americano perdido na foz de algum rio: todos têm algo a contar. Também se mantém viva uma antiga tradição de mitos e lendas, porque em Taveuni não há outra diversão além daquela que cada um cria.” (pg. 40)

Sempre que leio Jostein Gaarder a imagem que se forma é daquelas bonequinhas russas em que uma fica dentro da outra, as Matrioshkas, há sempre uma história dentro da história e isso me fascina, porque nada é o que parece. Saindo de Taveuni, somos levados por diversos lugares e tempos, para compreender como fatos aparentemente desconexos como as piruetas de um anão no porto de Cádiz, em 1790, o conceito de maya da filosofia hindu, a presença do pintor Goya na casa de campo da duquesa de Alba, no fim do século XVIII, as tradições dos ciganos andaluzes e até mesmo o o período devoniano em que apareceram os primeiros anfíbios se interligam.

Com reflexões tão densas poderia se imaginar que a leitura é enfadonha ou cansativa, mas não, e isso é o que mais em encanta no autor, ele consegue nos levar por caminhos e assuntos tortuosos de forma que o percurso seja agradável, quando percebemos já estamos mergulhados na sua trama intrincada, querendo saber como ele vai amarrar todas as pontas de tão fantástica história.

“Criar um mundo inteiro tem necessariamente considerada uma façanha louvabilíssima, mesmo que tivesse causado ainda maior admiração se um mundo inteiro tivesse sido capaz de criar a si mesmo. E vice-versa: a exeriência de ter sido criado não é nada em comparação com a incrível sensação de quem criou a si mesmo do nada e pode ficar de pé sem a ajuda de ninguém.” (pg.53)

A leitura de Maya só reforçou a adimiração que tenho pelo autor e pela força de sua escrita, ele consegue trazer para o campo da literatura debates e reflexões que considero muito pertinentes para a compreensão do ser humano, sem dúvida uma obra enriquecedora.

“somos o enigma que ninguém sabe resolver” (pg. 64)

“Precisa-se de bilhões de anos para criar um ser humano. E ele só precisa de alguns segundo para morrer.” (pg. 391)

GAARDER, Jostein. Maya. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

Esta leitura faz parte do Desafio Literário 2012, cujo tema de Fevereiro é a leitura de livros cujos títulos sejam nomes próprios.

Aqui é possível ler as resenhas dos outros participantes.