Meme Literário 2012 – Dia 30

Dia 30 – Qual o livro que você leu esse ano que menos gostou? Fale sobre ele.

Uma ponte para Terebin, Letícia Wierzchowski.

“A memória, como um rio, corre entre as margens da ficção, desenhando a trajetória de vida de Jan Wierzchowski, um jovem imigrante polonês que chega ao Brasil em 1936, três anos antes de a Polônia ser invadida pela Alemanha, assinalando assim o começo da Segunda Guerra Mundial.
A história de um avô que atravessou o mundo num navio e foi viver numa ruazinha sombreada de Porto Alegre. A história de um imigrante que tinha um sonho. A história de um soldado que viu o horror de perto. A história de um filho que ficou vinte e oito anos sem poder voltar para casa.
Uma ponte para Terebin é um romance sobre a vida e sobre as travessias sem volta. Um romance sobre a liberdade e sobre o preço que é preciso pagar por ela. Mas, acima de tudo, Uma ponte para Terebin é a história de uma caixa de retratos que, um dia, começaram a falar.

Com essa sinopse, escrito por uma das autoras que mais gosto é até estranho este livro figurar como o que menos gostei esse ano, mas nessa narrativa Letícia não conseguiu me cativar. O livro é belo, poético e forte e ainda assim me deixou um gosto amargo na boca principalmente pelo tom indulgente com que a neta justificava muitas das atitudes do avô. Compreendo que quando somos muito próximos da história é difícil não revestirmos sua narrativa de lirismo, mas nesse caso foi o que me causou estranhamento e me distanciou dessa história.

Os aparados, Letícia Wierzchowski

lw_os aparados Os aparados (Record, 2009, 236 páginas), de Letícia Wierzchowski é uma história que se passa em um futuro indefinido, onde as chuvas já alagaram grande parte das cidades e nos conta a história de Marcus e Débora, avô e neta. Diante do caos que tomou conta de Porto Alegre, Marcus decide levar Débora que está grávida de 7 meses para a casa que tem na região dos aparados da serra.

A indefinição temporal da história é desconcertante e detalhes como carros híbridos, movidos tanto à gasolina como à luz elétrica e acesso à internet no alto dos aparados deixam a obra com um ar de ficção científica, mas a trama está para além disso, pois Letícia volta sua escrita para as relações humanas, o que torna secundária as alegorias futurísticas dando muito mais dramaticidade as complexas relações entre o avô e a neta.

A relação entre Marcus e Débora é conturbada e distante, eles são a única família um do outro, mas são completos estranhos. A morte da mulher e da filha, da avó e da mãe deixaram marcas profundas nos dois, e os afastou ainda mais. Marcus vê a gravidez de Débora como o único laço a unir os dois, mas ela não pensa assim, e quer de qualquer maneira fugir do controle do avô.

A tensão é quase como uma personagem, está ali sempre presente, se fazendo sentir em cada entrelinha, o que torna a narrativa e a evolução do relacionamento dos dois ainda mais dramática.

É uma boa história, densa, bem construída, com pitadas de realismo fantástico, bem características de alguns escritos da autora, bastante peculiar e cheia de surpresas.

Ele sussurra algumas palavras, agradece essa visita, essa súbita união de espaços, esse vacilo da engrenagem da vida.

Como um presente, encontrou esta brecha na tecedura do Tempo.

estrelinhas coloridas…