Crônicas do Mundo Emerso – A missão de Senar

"Durante a guerra dos Duzentos Anos, muitos habitantes do Mundo Emerso, cansados de tantos combates, deixaram suas Terras para ir viver no mar. O último contato com eles remonta a cento e cinquenta anos atrás, quando os reinos unidos da Terra da Água e do Vento tentaram invadir o Mundo Submerso graças a um mapa conseguido de um habitante daquele reino que voltara a morar em terra firme. A expedição teve um fim trágico: nenhum sobrevivente voltou para contar o que aconteceu. Desde então, nada mais se soube daquele continente e perdeu-se a memória de como alcançá-lo."

Missão de Senar é o segundo volume da trilogia “As Crônicas do Mundo Emerso” e a narrativa agora se concentra como o próprio título já entrega em Senar, e isso traz um frescor para a trilogia tornando-a ainda mais fluida, mas mesmo com este novo enfoque, Nihal ainda é parte importante desta narrativa.

Neste livro acompanhamos o mago, que na função de conselheiro e embaixador do Mundo Emerso parte em busca do Mundo Submerso. O único navio que aceita a missão é o da pirata Aires, pois esta é considerada uma empreitada totalmente suicida.

Enquanto Senar sai em sua missão, Nihal começa a treinar com Ido, gnomo e cavaleiro de dragão e conhece Laio, que se tornará um amigo leal e fiel. Os dilemas e a petulância de Nihal me cansaram um pouco, mas acho que sem estas características ela não seria tão cativante, ficando claro aqui o quanto gosto de personagens irritantes.

Vários elementos novos surgem neste volume e trazem uma riqueza que me encantou, gosto muito quando narrativa vai crescendo em complexidade, quando as personagens vão mostrando mais nuances, quando vou percebendo que há muito mais do que a heroína com uma missão maluca ou do mago altruísta que sai em busca de um povo perdido.

Enfim, gostei ainda mais dos rumos que a história vai tomando ao longo desta narrativa, com elementos que humanizam os heróis e vilões e principalmente com o crescimento e resolução dos dilemas pessoais das personagens.

Crônicas do Mundo Emerso – A Garota da Terra do Vento

[…] é o menor e mais afastado país do Mundo Emerso. Localizado no Oeste, de um lado é fechado pelo Saar, o Grande Rio, e do outro é ameaçado pela Grande Terra. Não há um só lugar de onde não se veja a alta torre da Fortaleza, a morada do Tirano. Como sombria e onipresente ameaça, ela domina a vida de todos os habitantes da área. Lembra a todos que não há lugar onde a mão do Tirano não possa alcançar. Apesar disto, o reino ainda continua parcialmente livre.

Relatório anual do Conselho dos Magos, fragmento.

Uma das minhas fontes mais prolíficas de indicações literárias é sem dúvida o Fórum Meia Palavra, a cada visita são feitos acréscimos na lista de futuras leituras, e foi lá que ouvi falar de “As Crônicas do Mundo Emerso” da escritora italiana Licia Troisi e como o tópico do livro tinha uma discussão bem interessante resolvi conferir a trilogia.

No primeiro livro, “A garota da terra do vento” conhecemos Nihal, uma menina cuja vida se resume a passar os dias entre as torres da cidade com sua turma de garotos, brincando de ser guerreira, ela está acostumada a vencer sempre, mas um dia é desafiada por um garoto estranho chamado Senar e pela primeira vez perde uma luta. Esta derrota a leva a decidir que precisa aprender magia, pois acredita que só perdeu porque Senar é um mago. É isso que a leva a descobrir que tem uma tia chamada Soana que além de maga também é conselheira do Conselho dos Magos do Mundo Emerso. Mas antes de iniciar seu treinamento em magia ela tem é surpreendida pela presença de Senar que também é aprendiz de Soana.

Mas os problemas pessoais de Nihal são nada comparados à guerra em que O Mundo Emerso está imerso, o vilão conhecido como Tirano criou seres chamado fâmins única e exclusivamente para comporem seu exército e a fúria dele alcança a Terra do Vento, lançando Nihal em uma aventura muito maior do que ela jamais imaginou.

Gostei muito da história, a narrativa é dinâmica e fluída, não existem digressões nem pontas soltas, nada está ali por acaso tudo tem sentido e pertinência para o desenrolar da história e isso me conquistou muito. A linguagem a princípio me causou um certo estranhamento principalmente pelo uso do tu, ao invés de você e veja bem isso é bastante curioso porque eu estranhei um livro escrito da mesma forma que eu falo apenas por que isso não é usual, mas no decorrer da leitura isso acabou criando uma identidade muito forte para a mim.

Licia criou personagens fortes e com dilemas aprofundados que enriquecem a obra de tal forma que até mesmo o contexto bastante comum do universo fantástico, com magia, dragões e guerras não ofusca a riqueza da história que ela construiu.

TROISI, Licia. Crônicas do Mundo Emerso: Livro 1 – A Garota da Terra do Vento. Tradução de Mario Fondelli. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.