A estante de hoje é bem como eu gosto, gigante, com nichos e tem escada 😉
Lugar Nenhum

"Richard havia percebido que os acontecimentos são seres covardes. Eles nunca acontecem sozinhos: vêm numa matilha, pulando juntos sobre alguém ao mesmo tempo."
Lugar Nenhum não nasceu prosa, nasceu roteiro de uma série de TV, em seis capítulos, Neil Gaiman o escreveu em 1997, para a rede britânica BBC. Depois ela virou História em Quadrinhos e só depois desse longo caminho que virou livro.
A história é centrada em Richard Mayhew, um escocês que vê sua vida virar do avesso depois de ajudar uma desconhecida que encontrou ferida em uma calçada de Londres. Até esta noite ele tinha uma vida pacata, um bom emprego e era dominado pela noiva controladora. Mas após ajudar a jovem Door, ele descobre na manhã seguinte que não tem mais nada. No trabalho ninguém o reconhece, sua noiva até tenta, mas não lembra quem ele é, seu apartamento é alugado com ele dentro da banheira, nem mesmo o caixa eletrônico reconhece seu cartão bancário. Diante desta situação tão bizarra ele parte em busca das estranhas personagens que julga, e de fato são, responsáveis por tudo que está acontecendo com ele, e assim parte para um mundo até então desconhecido: a Londres de Baixo.
Nesta nova Londres ele será confrontado com situações ainda mais bizarras dos que as que o levaram até ali, são tantas informações novas com as quais lidar, que Richard, em uma tentativa de manter um pouco a sanidade começa um diário mental:
"Querido Diário, começou ele. Na sexta-feira eu tinha um emprego, uma noiva, uma casa e uma vida normal (bom, pelo menos até o ponto em que a vida consegue ser normal). Então eu achei uma moça sangrando na calçada e tentei bancar o Bom Samaritano. Agora não tenho mais noiva, casa ou emprego, fico andando a esmo a uns sessenta metros abaixo das ruas de Londres e minha expectativa de vida é tão longa quanto a de uma drosófila suicida."
Uma das coisas que achei interessante no livro é o papel que tem as linhas de metrô, na Londres de Baixo os nomes das estações tem conotações reais, em “Blackfriars” encontramos os monges negros e em “Seven Sisters” existem mesmo sete irmãs. Já uma coisa que me chateou no livro diz respeito à tradução, não gosto quando parte dos nomes próprios ganham traduções e outros não, até entendo os motivos da tradutora para optar por fazer assim, mas continuo estranhando que “Door” seja filha de Pórtico.
Foi impossível ler as aventuras de Richard, Door e do Marquês de Carabas sem me lembrar de outros dois livros, primeiro de Stardust, do próprio Gaiman que também conta com um heróis às avessas, uma menina que cai de paraquedas na vida dele e um mundo paralelo que sempre esteve perto sem que ele tomasse conhecimento disso. O segundo foi Coração de Pedra, de Charlie Fletcher, que além dos elementos acima, também se passa em Londres. As histórias em si são bem diferentes e me agrada descobrir nestas leituras como são múltiplos os olhares sobre uma estrutura tão parecida.
Duas pessoas me disseram que gostei tanto de Lugar Nenhum porque ainda não li as melhores obras em prosa de Gaiman, no caso Deuses Americanos e Os filhos de Anansi, mas fico feliz com isso, mesmo com expectativas altas, adorei a história que para mim é acima de tudo sobre a fantástica viagem que podemos fazer ao mundo de medos e surpresas que há em nós mesmos, e se os outros dos livros ali na fila de espera forem ainda mais legais, só tenho a ganhar 😉
GAIMAN, Neil. Lugar Nenhum. Título original: Neverwhere, tradução de Juliana Lemos. São Paulo: Conrad, 2010.
Na rua, na chuva…
Lumos
#lumosmaxima
1 – A tradutora Denise Bottmann vai contar no blog Passeio ao farol a experiência de traduzir "To the Lighthouse" de Virgínia Woolf .
2 – Carta à Virgínia Woolf – A Francine Ramos, do blog Livro & Café escreveu uma carta a sua autora favorita, lindo e emocionante.
3 – A casa de Cora Coralina – Viviane Pontes fala, em um texto poético, como foi visitar a exposição sobre a poetisa Cora Coralina junto com a filha.
4 – Como eu leio – A Naomi escreveu sobre o método que ela utiliza para suas leituras, lá no Pensamentos de uma Batata Transgênica.
5 – Biblioteca Britânica digitaliza tesouros da literatura – Confira o vídeo em português, vi lá no sempre excelente Jane Austen Brasil.
#nox
Uma estante de quinta
Em caso de emergência
Uma estante de quinta
Memórias Póstumas de Brás Cubas

“Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma idéia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.”
Eu sempre espero muito de Machado de Assis e foi com expectativas inflacionadas que me lancei a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas, livro que é considerado a obra inaugural do realismo na Literatura Brasileira, mas não adianta, por mais altas que sejam as expectativas Machado de Assis nunca me decepciona, nunca.
Nem tinha como eu não gostar de uma obra que tem essa dedicatória:
"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas".
Sem contar que ela já mostra a que veio logo nas primeiras linhas. A ironia e crítica social que permeia toda narrativa são grandes trunfos da história que o defunto-autor, não confunda com um “autor defunto”, nos conta.
A história de Brás Cubas, contada por ele mesmo do além, abrange desde a infância até a sua morte, mas nada disso é contado de forma linear, os acontecimentos vão sendo contados conforme vão surgindo na lembrança do defunto, é como um fluxo de ideias se sobrepondo, uma coisa puxa a outra e assim vamos sendo conduzidos pelas memórias deste senhor que na morte, já despido de qualquer expectativa, tece uma gama de considerações pra lá de pertinentes sobre a sociedade.
Enfim uma leitura que ainda hoje se mostra atual e coerente, é como disse no início da resenha, Machado de Assis nunca me decepciona e Memórias Póstumas não foi exceção à regra, bem ao contrário, só confirmou a genialidade do autor.
“Não tive filhos. Não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Porto Alegre: L&PM, 2007.
Esta leitura foi feita para o Desafio Literário cujo tema de agosto era a leitura de um Clássico da Literatura Brasileira.
Pequeno leitor
Lumos

#lumosmaxima
1 – Filmes que todo bibliotecário deveria ver – uma lista bacana de filmes, seja você bibliotecário ou não, lá no Bibliotecários Sem Fronteiras.
2- O Clube do Suicídio e outras histórias – Anica resenhou o livro de Robert Louis Stevenson que faz parte da coleção Prosa do Mundo da Cosac Naify.
3 – Fregueses vs. livraria – Hillé do excelente blog pequeno manual de bons modos em livraria, solta o verbo no blog da Companhia, como sempre é bom humor garantido.
4 – Casa de Edgar Allan Poe está ameaçada de fechamento – uma pena mas segundo o curador Jeff Jerome eles se nada mudar a casa irá fechar depois de junho de 2012.
5 – Jorge Luis Borges, feliz aniversário – A Dani escreveu sobre sua relação com o escritor argentino Jorge Luis Borges, um autor que ela admira mas ainda não leu.
#nox







