Onde Habitam os Dragões

“O que é isso? John perguntou.
O homenzinho piscou os olhos e arqueou uma sobrancelha.
É o mundo, meu rapaz disse ele. Todo o mundo, a tinta e sangue, velino e pergaminho, pele e couro. Isto é o mundo, e ele é seu para salvar ou perecer.”

Provavelmente tu já conheces esta história em que pessoas normais descobrem que um armário, um trem ou um buraco são portas de entrada para mundos mágicos e que eles possuem um grande poder desconhecido essencial para vencer o mal. A premissa de Onde Habitam os Dragões, primeiro volume da série As Crônicas do Imaginarium Geographica (James A. Owen) é exatamente essa, mas o autor vai bem mais além, ele consegue criar uma história que reúne diversas referências à literatura, à mitologia grega, às histórias bíblicas, ao mito arturiano e ainda assim tem um gostinho de novidade.

“Sob o oleado havia um grande volume encadernado a couro, desgastado com o uso – ou com muita idade. Estava amarrado na ponta aberta com tiras de tecido, e na frente, em baixo relevo, as letras ainda traziam vestígios reluzentes de acabamentos dourados, formando as palavras Imaginarium Geographica.
– Hmm. “Geografia da Imaginação”, não é isso? – perguntou Charles – Interessante.
– Quase – disse Bert – Uma tradução melhor seria menos literal: “Geografia Imaginária”.
– Imaginária? – perguntou John, espiando o livro enorme. – Para que serve um atlas de geografias imaginárias?
O sorriso rápido quase escondeu a sombra que passou pelo rosto e Bert quando ele respondeu. – Ora, você está naturalmente brincando às nossas custas, certo jovem John? Ele serve exatamente ao uso que se poderia imaginar: guiar uma pessoa para entrar, e sair, de terras imaginárias.
– Todas as terras que já existiram em mito e lenda, fábula e contos de fadas, podem ser encontradas aí dentro – continuou Bert – Ouroboros, Schlaraffenland e Poictesme, Lilliput, Mongo, Islandia e Thule, Pellucidar e Prydain; todas elas estão aí.
– Coletivamente, o lugar onde todas essas terras existem é chamado de Arquipélago dos Sonhos: e foi por este livro, este guia para o Arquipélago que o professor foi morto.” (pgs. 31-32)

A aventura começa em Londres no ano de 1917, com a reunião, de três jovens desconhecidos: John, Jack e Charles. O catalisador desse encontro é a morte do Professor Sigurdsson, tutor de John. Após esse primeiro contato os três acabam por conhecer um homem inusitado chamado Bert, que lhes conta que eles são os guardiões do Imaginarium Geographica, um peculiar atlas que reúne todas as terras que já existiram na imaginação. Obviamente os três jovens, como bons homens de Oxford, não acreditam em uma palavra do desconhecido, no entanto a chegada de estranhas criaturas chamadas “Wendigo” desencadeia uma fuga desenfreada para salvarem suas vidas.

Eles partem no navio de Bert, o fantástico Dragão Índigo, e navegando pelo Tâmisa atravessam a tênue fronteira dos mundos e chegam ao Arquipélago dos Sonhos.
Não tendo mais como ignorar as evidências de que estão de fato em um mundo no mínimo curioso, John e seus companheiros descobrem que precisam manter o “Imaginarium Geographica” a salvo do Rei do Inverno, que tem a intenção de dominar o Arquipélago e o mundo dos homens para transformá-los em um mundo de sombras. A história é recheada de aventura, magia, traições e nos lança em uma jornada fantástica onde vemos pessoas lutando contra seus demônios para juntos lutarem contra um mal muito maior.
“Onde Habitam os dragões” é um livro fantástico, com uma história rica e bem construída e que acima de tudo é uma homenagem aos grandes nomes da literatura que o precederam.

 

Os Sete Selos

"Ah Deus!

– Porque vocês continuam falando o nome dele? Acreditem em mim, Ele não vai ajudar agora. Na verdade, eu espero que Ele não atrapalhe”. pg. 55

Uma organização denominada de a “Agência” cuja finalidade é lidar com eventos sobrenaturais, se depara com acontecimentos que estão além da compreensão até mesmo de seus mais renomados especialistas. Diante desta situação uma equipe bastante incomum se forma: uma agente cumprindo suspensão, um ex-agente expulso por mau comportamento e um demônio. É deles a missão de descobrir quem matou o bispo Claude e porque.

A personagem central é Lara Carver, uma jovem e brilhante agente que tem problemas em lidar com hierarquia e protocolos, é através dos olhos dela que vemos a narrativa se desenvolver. Depois de se ver obrigada a conviver com o demônio Lucius, assassino de seu pai e também com seu amigo de infância Jason, ela começa a descobrir os motivos que levaram os anjos a iniciarem uma guerra contra os humanos e principalmente sobre si mesma.

A narrativa é simples, mas a história é bastante rica e prende a atenção até mesmo nos momentos em que aparecem algumas incongruências em relação à idade da protagonista: na sinopse nos é informado que ela tem 21 anos, mas em outras duas passagem ela tem respectivamente 23 e 25 anos, e temos também outras informações adicionais com relação a amizade dela com Jason que fazem com que estes dados fiquem ainda mais confusos.

Já Lucius é uma personagem realmente fascinante e a que mais me cativou, fiquei com um gosto de quero mais em relação a ele, de saber sobre sua personalidade peculiar mais aprofundadamente, de compreender os intrincados acontecimentos que o levaram a ser como ele é.

O texto podia ter sido melhor lapidado e alguns aspectos da história melhor amarrados, mas para além destes pontos negativos a autora se apropriou de mitos e simbologias de forma bastante criativa, conseguindo com isso construir uma história empolgante sobre uma temática muito explorada.

SALAZAR, Luiza. Os Sete Selos. São Paulo: Editora Underworld, 2010.