Meme Literário 2012 – Dia 27

Dia 27 – Cite um livro que você gostaria de ler mas que por algum motivo nunca leu. Por quê? (Pergunta feita no Meme de 2010. Se você participou na época, procure comparar as respostas.)

Em 2010 respondi assim:

Nunca li “Mansfield Park”, Jane Austen simplesmente porque não existem mais edições decentes no Brasil  ainda tenho esperanças de que a Editora L&PM lance os outros cinco livros de Jane Austen em edições com traduções dignas e caprichadas, assim como fez com Orgulho e Preconceito.

Depois disso a L&PM já lançou Persuasão, A Abadia de Northanger e Razão e Sentimento, acredito que minhas esperanças de ler “Mansefield Park” não são sem fundamento 😉

Matadouro 5

“O visitante do espaço realizava um estudo muito sério da cristandade para tentar compreender por que os cristãos achavam tão simples ser cruel.” pg. 114

Quando escolhi o livro Matadouro 5 do Kurt Vonnegut para o Desafio Literário, sabia apenas que ele era sobre viagens no tempo, nada mais. E assim, sem nenhuma expectativa, nenhum conceito pré concebido que me lancei na leitura dessa obra.
Passado vários dias que terminei a leitura, ainda me pego surpresa com a genialidade do autor, ele escreveu um livro sobre viagem no tempo, sobre guerra, sobre vida extraterrestre e na verdade nada disso é realmente fundamental para que compreendamos a mensagem pacifista que ele deixou para a humanidade.

“Disse a meus filhos que eles não devem em hipótese alguma participar de massacres e que as notícias sobre massacres dos inimigos não deixá-los nem orgulhosos, nem felizes”. pg. 25

Com uma narrativa totalmente metalinguística, o livro não é fácil, exige boa vontade do leitor, mas vale à pena o esforço para acompanharmos Billy Pilgrim em suas andanças pelo tempo e espaço, hora estamos em meio ao bombardeio a cidade de Dresden hora estamos em sua confortável casa na cidade americana de Illium. Como preparação para esta aventura temos o primeiro capítulo que traz, supostamente, a realidade, nele o autor contextualiza o livro bem como suas motivações para escrevê-lo, é um prelúdio que já mostra a que veio, pois nele já vamos percebendo que na escrita de Vonnegut não existem desperdícios, cada palavra, cada vírgula, cada ponto tem um objetivo, e esse objetivo creio eu, seja justamente o de lançar o leitor em uma aventura na qual ele não poderá ficar indiferente, não creio que exista a possibilidade sairmos ilesos de uma leitura tão impactante.
Mas que essa leitura seria uma experiência enriquecedora, desconcertante, absurda e surreal eu já devia ter previsto quando li a folha de rosto do livro:
Matadouro 5
ou 
A cruzada das crianças
uma dança com a morte
de
Kurt Vonnegut
Americano de origem alemã de quarta geração que hoje vive tanquilamente em Cape Cod [fumando muito] e que, como soldado de infantaria americano hors de combat, como prisioneiro de guerra, testemunhou o bombardeio de Dresden, na Alemanha, “a Florença de Elba”, há muito tempo sobreviveu para contar a história.
É uma novela que segue mais ou menos o modo esquizofrênico e telegráfico das histórias do planeta Tralfamador, de onde vêm os discos voadores.
Paz.
VONNEGUT JR., Kurt. Matadouro 5. Tradução de Cássia Zanon. Porto Alegre: L&PM, 2011.
Esse é o verdadeiro Matadouro 5
Essa leitura faz parte do Desafio Literário 2012  cuja temática do mês de Junho era a leitura de livros sobre Viagens no Tempo.
Aqui é possível ler as resenhas dos outros participantes.

Memórias Póstumas de Brás Cubas

“Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma idéia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.”

Eu sempre espero muito de Machado de Assis e foi com expectativas inflacionadas que me lancei a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas, livro que é considerado a obra inaugural do realismo na Literatura Brasileira, mas não adianta, por mais altas que sejam as expectativas Machado de Assis nunca me decepciona, nunca.

Nem tinha como eu não gostar de uma obra que tem essa dedicatória:

"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas".

Sem contar que ela já mostra a que veio logo nas primeiras linhas. A ironia e crítica social que permeia toda narrativa são grandes trunfos da história que o defunto-autor, não confunda com um “autor defunto”, nos conta.

A história de Brás Cubas, contada por ele mesmo do além, abrange desde a infância até a sua morte, mas nada disso é contado de forma linear, os acontecimentos vão sendo contados conforme vão surgindo na lembrança do defunto, é como um fluxo de ideias se sobrepondo, uma coisa puxa a outra e assim vamos sendo conduzidos pelas memórias deste senhor que na morte, já despido de qualquer expectativa, tece uma gama de considerações pra lá de pertinentes sobre a sociedade.

Enfim uma leitura que ainda hoje se mostra atual e coerente, é como disse no início da resenha, Machado de Assis nunca me decepciona e Memórias Póstumas não foi exceção à regra, bem ao contrário, só confirmou a genialidade do autor.

“Não tive filhos. Não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Porto Alegre: L&PM, 2007.

Esta leitura foi feita para o Desafio Literário cujo tema de agosto era a leitura de um Clássico da Literatura Brasileira.

Persuasão, finalmente!

E hoje tem postagem especial em homenagem ao lançamento do livro Persuasão de Jane Austen por uma de minhas editoras prediletas: L&PM Editores. Além de proporcionar ao público o acesso a uma obra há muito sem edição decente no Brasil, a editora ainda caprichou ao utilizar no projeto gráfico esta capa em estilo vintage que enche os olhos, sem fala na tradução de Celina Portocarrero. Fica aqui o registrado meu agradecimento à Editora L&PM e também a esperança de ver os outros quatro títulos da autora nesta mesma coleção.

Os direitos do leitor

Esses dias comecei a ler um livrinho (L&PM pocket) de Daniel Pennac chamado Como um romance que discorre de maneira leve e despretenciosa sobre as chaves para o mundo da leitura. É um ensaio, mas pode ser lido como um romance.

É desse livro que trago os direitos do leitor:

1 – O direito de não ler.

2 – O direito de pular páginas.

3 – O direito de não terminar um livro.

4 – O direito de reler.

5 – O direito de ler qualquer coisa

6 – O direito de ao bovarismo.

7 – O direito de ler em qualquer lugar.

8 – O direito de ler uma frase aqui outra ali.

9 –  O direito de ler em voz alta.

10 – O direito de calar.

estrelinhas coloridas…