Confissão de um verdadeiro crime bibliográfico

     Esses dias conheci o blog  Doce Palabras, que é de uma moça que coleciona “marcas de propriedade” principalmente ex libris e os textos dela falando sobre as aventuras para aumentar a coleção são deliciosos, um de novembro de 2008 conta que em uma das andanças pelas livrarias de Donceles, ela se depararou com uma situação curiosa: um livro italiano de arquitetura do século XVIII possuia quatro ex libris sobrepostos, os proprietários foram colando um sobre o outro, mas ela não se fiz de rogado e foi descolando um a um até chegar ao primeiro ex libris. 
     Esta é uma história inusitada que enche a cabeça dos aficcionados por bibliofilia com especulações, eu não consegui resistir e criei no mínimo umas 100 histórias hipotéticas para justificar a atitude dos proprietários do livro, todas elas totalmente fabulosas e inverossímeis, mas acredito que justamente nessa possibilidade que reside o encanto de se colecionar objetos antigos relacionados à livros.

Tipos de Ex libris

Como uma das minhas temáticas prediletas dentro da bibliofilia é o “ex libris” hoje volto a falar deles, mais especificamente dos tipos de “ex libris”.

Diversos estudiosos dividem os “ex libris” em quatro categorias:

1) Etiquetas: não trazem imagens além do nome do proprietário, e podem ser acompanhado de ornamentos. Nesta categorias temos como exemplo o “ex libris” do artista Wandy Warhol.

2) Armoriados ou heráldicos: quando o motivo principal do desenho consiste de brasões ou insígnias de indivíduos, cidades, associações etc. Um exemplo muito bonito desta categoria é o “ex libris” de António Pinheiro Marques

3) Simbólicos: quando trazem imagens que traduzem ideias, lemas de vida, ocupações etc., que não tenham caráter heráldico. Esta categoria é bastante ampla e como exemplo temos o “ex libris” do médico Richard Irwin Darnell:

4) Paisagísticos: quando reproduzem cenas rurais, urbanas, marinhas etc. ligadas afetivamente ao possuidor dos livros. Nesta categoria destaco como exemplo o “ex libris” de M & D McBurney.

Quando um “ex libris” pode ser enquadrado em mais de uma categoria ele é chamado de misto.

Ex libris de Alvaro Moreyra

O escritor gaúcho Alvaro Moreyra (Porto Alegre, 1888 – Rio de Janeiro, 1964) foi um comunista devoto de São Francisco de Assis e um acadêmico que, ao ver-se no fardão de imortal da Academia Brasileira de Letras, achou-se parecido com um porteiro de edifício. Eleito em 1959 para a ABL, ocupou a cadeira 21, sucedendo a Olegário Mariano. Ele tinha um Ex libris muito bonito, que foi desenhado pro Di Cavalcanti.

Para que quiser saber mais sobre este autor muito pouco conhecido atualmente, recomendo a leitura deste artigo.

Ex libris II – A maldição!

Eu disse que eu adoro o assunto então nem adianta reclamar… e vamos a segunda parte.

Existe uma curiosidade sobre os ex libris de bibliotecas monásticas do século XIV, que podemos facilmente aplicar em nossas bibliotecas para assustar quem pensar em ficar com nossos amados exemplares. Veja as palavras de Eduardo Frieiro em seu livro, Os livros nossos amigos:

Nas bibliotecas das comunidades monásticas da Idade Média, as mais ricas da época, tomavam-se todas as precauções possíveis contra os piratas de livros. Até o século XIV, usavam-se armários fechados com portas, e as obras costumavam ter ex-libris com inscrições em que se ameaçava com a pena de excomunhão, não só aos que furtavam ou encobriam o furto, como àqueles que raspavam ou faziam desaparecer o ex-libris da obra roubada. Quanto mais preciosa a obra, mais rigoroso o anátema. Um livro do século XII, da abadia parisiense de Santa Genoveva, trazia por baixo do título a seguinte etiqeuta, um dos mais antigos ex-libris que se conhecem: ‘Este libro é de Santa Genoveva. Quem quer que o furte, ou acoite, ou esta marca apague, excomungado seja!’. E quanto mais precioso o livro, mais grave a excomunhão. Em certo código do mosteiro de Marbaque, Alsácia – livro dos Evangelhos, numa encadernação que continha relíquias em suas pastas- a fórmula de excomunhão enchia meia página. O ladrão era votado, sucessivamente, a todos os tormentos do inferno, condenado a mergulhar em lagos ardentes de alcatrão e enxofre e a ter a sorte de Judas, o traidor, concluindo com a invocação: ‘Fiat! Fiat! Fiat!’, para dar mais peso à excomunhão fulminada. (FRIEIRO, 1957)

O Fernando Weno fez para ele mesmo um ex libris com uma maldição bem legal, é um estilo bem contemporâneo:

ex-libris-weno-maldicao

estrelinhas coloridas…

Referências Bibliográficas:

FRIEIRO, Eduardo. Os livros, nossos amigos. 1957