Crônicas do Mundo Emerso – A Garota da Terra do Vento

[…] é o menor e mais afastado país do Mundo Emerso. Localizado no Oeste, de um lado é fechado pelo Saar, o Grande Rio, e do outro é ameaçado pela Grande Terra. Não há um só lugar de onde não se veja a alta torre da Fortaleza, a morada do Tirano. Como sombria e onipresente ameaça, ela domina a vida de todos os habitantes da área. Lembra a todos que não há lugar onde a mão do Tirano não possa alcançar. Apesar disto, o reino ainda continua parcialmente livre.

Relatório anual do Conselho dos Magos, fragmento.

Uma das minhas fontes mais prolíficas de indicações literárias é sem dúvida o Fórum Meia Palavra, a cada visita são feitos acréscimos na lista de futuras leituras, e foi lá que ouvi falar de “As Crônicas do Mundo Emerso” da escritora italiana Licia Troisi e como o tópico do livro tinha uma discussão bem interessante resolvi conferir a trilogia.

No primeiro livro, “A garota da terra do vento” conhecemos Nihal, uma menina cuja vida se resume a passar os dias entre as torres da cidade com sua turma de garotos, brincando de ser guerreira, ela está acostumada a vencer sempre, mas um dia é desafiada por um garoto estranho chamado Senar e pela primeira vez perde uma luta. Esta derrota a leva a decidir que precisa aprender magia, pois acredita que só perdeu porque Senar é um mago. É isso que a leva a descobrir que tem uma tia chamada Soana que além de maga também é conselheira do Conselho dos Magos do Mundo Emerso. Mas antes de iniciar seu treinamento em magia ela tem é surpreendida pela presença de Senar que também é aprendiz de Soana.

Mas os problemas pessoais de Nihal são nada comparados à guerra em que O Mundo Emerso está imerso, o vilão conhecido como Tirano criou seres chamado fâmins única e exclusivamente para comporem seu exército e a fúria dele alcança a Terra do Vento, lançando Nihal em uma aventura muito maior do que ela jamais imaginou.

Gostei muito da história, a narrativa é dinâmica e fluída, não existem digressões nem pontas soltas, nada está ali por acaso tudo tem sentido e pertinência para o desenrolar da história e isso me conquistou muito. A linguagem a princípio me causou um certo estranhamento principalmente pelo uso do tu, ao invés de você e veja bem isso é bastante curioso porque eu estranhei um livro escrito da mesma forma que eu falo apenas por que isso não é usual, mas no decorrer da leitura isso acabou criando uma identidade muito forte para a mim.

Licia criou personagens fortes e com dilemas aprofundados que enriquecem a obra de tal forma que até mesmo o contexto bastante comum do universo fantástico, com magia, dragões e guerras não ofusca a riqueza da história que ela construiu.

TROISI, Licia. Crônicas do Mundo Emerso: Livro 1 – A Garota da Terra do Vento. Tradução de Mario Fondelli. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.

Lumos

#lumosmaxima

1 – Ficção científica, o universo e tudo mais… – excelente artigo escrito pela Cris Lasaitis falando sobre ficção científica e seus principais subgêneros.

2 – Carta de amor do poeta John Keats é vendida por R$ 224 mil – a carta foi escrita para o grande amor do poeta Fanny Brawne, seu grande amor, em 1820, um anos antes de sua morte.

3 – Os últimos dias de Liev Tolstói – Texto inspirado do Tiago Pinheiro ao fim do qual do seremos gratos à Tolstói.

4 – O preparador, esse desconhecido – Vanessa Barbara fala sobre este profissional que segundo ela deveria ser uma afecção mental categorizada pelo CID-10.

5 – Meus autores favoritos (2) – Luiz Schwarcz fala sobre a aventura para conseguir editar Borges.

#nox

p.s. o manuscrito acima é a página inicial de Hyperion, de Keats.

O Clube Filosófico Dominical

Eu adoro livros de mistério e investigações e quando encontrei “O clube filosófico dominical” de Alexander McCall Smith achei o título irresistível, some-se a ele a promessa de uma história que junta uma personagem que é filósofa, uma morte ocorrida em uma sala de concertos e que se passa em Edimburgo, Escócia, acrescente ainda nessa equação o fato de ter lido outros livros do autor que em agradaram e pronto minhas expectativas estavam nas alturas.

É claro que esperando tanto assim desta leitura era fato que eu iria me decepcionar, e realmente o gosto amargo da decepção me perseguiu em cada linha, principalmente porque ela veio de onde eu mesmo esperei.

O livro conta a história de Isabel Dalhousie, filósofa escocesa que assiste à morte de Mark Fraser, um total desconhecido quando este cai de uma galeria do teatro. No momento da queda os olhares dos dois se cruzam e partir dai Isabel se sente com a obrigação moral de descobrir o que aconteceu com o rapaz, sim, é isso mesmo só porque os olhos dela cruzaram com o dele por uma fração infinitesimal de tempo, ela acha que tem o direito, opsss o dever de chafurdar na vida de um completo desconhecido.

As divagações filosóficas de Isabel são no mínimo risíveis de tão rasas e infundadas, ela se choca com o jornalista que vai a sua casa para saber mais sobre a morte do rapaz, quando ele lhe diz que vai procurar a família do morto, mas não vê nenhum mal em ela própria fazer “investigações” por conta própria, pois ela reveste suas motivações com um simulacro de moralidade. Este capítulo causa um estranhamento tão grande diante da postura e da fala do jornalista que cheguei a pensar que a trama iria engrenar e ficar mais interessante, no entanto foi só mais uma decepção.

O final do livro reserva algumas surpresas positivas pois, ao contrário do que imaginei a solução do mistério não é fruto direto das investigações mirabolantes de Isabel, ela não se mostrou uma boa detetive afinal e isso me agradou muito, assim como o desfecho da trama em si.

Enfim preciso ressaltar que o tal do clube filosófico dominical do título, não passa de uma promessa, ele é apenas citado em algumas falas do livro e nada mais, o que convenhamos é um desperdício, eu esperava bem mais do livro, fiquei com uma sensação de coisas inacabadas, ele foi um dessas promessas maravilhosas que não se concretizou.

A edição da Companhia das Letras como sempre é ótima, e aqui comento uma curiosidade, eu tenho vários livros deste gênero da editora e todos seguem a mesma linha visual, com o nome do autor numa tarja superior e com as bordas das páginas coloridas e sempre pensei que se tratasse de um coleção ou série, mas não é só mesmo a identidade visual que é assim, eu adoro.

SMITH, Alexander McCall. O Clube Filosófico Dominical. Tradução de Alexandre Hubner. São Paulo: Companhia das letras, 2007.

Lumos

#lumosmaxima

1 – Escritores bem na foto – Carlos André Moreira fez uma seleção de 15 fotografias de escritores, todas ótimas.

2 – #**}%#!!! Uma história escabrosa e sua lição inestimável – Sergio Rodrigues fala sobre o bate boca, via caixa de comentários, que sacudiu a blogosfera literária inglesa.

3 – Sweet as a bee – porque disseram que também tenho ferrão – na estréia da sua coluna mensal no blog do Meia Palavra, a Izze fala sobre os leitores que aproveitam o trajeto São Leopoldo-Porto Alegre do metrô para colocarem a leitura em dia.

4 – Para ler: A cor da Magia/A Luz Fantástica – Lulu arrasa na resenha dos dois primeiros volumes da série Discworld de Terry Pratchett e te deixa com comichão para começar a ler.

5 – Editando Clássicos – André Conti fala sobre a coluna do blog da Companhia da Letras que terá como temática os bastidores das edições do selo Penguin-Companhia.

6 – Literatura infantil em debate – o site do Instituto Cultural Aletria entrevistou Júlia Moritz Schwarcz sobre literatura infantil.

#nox