Beatrice não quer

Este é um daqueles livros adoráveis que se lê numa tacada só. Aqui já foi lido e relido à exaustão. Ele conta a história de Beatrice, que é uma pequena que gosta muito de dizer: "não quero". E é exatamente o que ela diz para o irmão quando ele tem que levá-la junto à biblioteca, mas mesmo não querendo ela tem que ir e lá acaba tendo uma surpresa muito boa.

O texto curto, em caixa alta fazem dele uma ótima pedida para os pequenos em processo de alfabetização. É um livro muito bacana, com edição caprichada e ilustrações lindas que vão encantar os pequenos e grandes leitores.

NUMEROFF, Laura. Beatrice não quer. Fundamento: São Paulo, 2011.

Belas Maldições

" Crianças! Provocar o Armagedon pode ser perigoso. Não tentem isso em casa."

Ler a última palavra de Belas Maldições, As Belas e Precisas Profecias de Agnes Nutter, Bruxa me deixou sem fôlego, desnorteada e principalmente em êxtase, êxtase que só é causado por leituras simplesmente fantásticas. Inefável me parece o único adjetivo capaz de descrever o impacto desta leitura para mim.

Um livro que estampa na capa os nomes de Neil Gaiman e Terry Pratchett tem um poder avassalador sobre mim, comprei Belas Maldições sem saber nada, nadinha sobre a história, apenas por ele ter sido escrito a quatro mãos pelos meus dois ídolos literários. Isto posto, espero que os leitores não busquem neutralidade nesta resenha, todos os textos que já produzi ou que produzirei sobre eles são e serão passionais elevados à máxima potência.

Quando descobri que o livro era sobre o fim do mundo fiquei ainda mais animada para ver o que Gaiman e Pratchett tinham aprontado, separados eles nunca me decepcionaram mas e juntos? Ah juntos, eles são simplesmente geniais!

As referências à passagens bíblicas, literatura, o cotidiano londrinho, cinema, música permeiam texto inteiro fazendo com que a leitura seja, como diria Lu, um grande jogo de palavras cruzadas, muitas delas se perdem, mas outras fazem parte do imaginário popular e do senso comum, e isso torna o texto hilariante até mesmo para o mais desavisado dos leitores. E as notas de rodapé? Não conheço ninguém que use notas de rodapé como Pratchett, elas fazem parte do texto de forma tão instrínseca (ou não) que não cansam e nem tornam a leitura enfadonha, muito pelo contrário, várias risadas são fruto da leitura delas.

Apocalipse que se preze tem que ter um anticristo e neste caso, ele é um guri adorável, que ama a cidade onde vive, quer salvar as baleias e tem um cão infernal chamado Cão, e tudo isso porque irmã Maria, da Ordem Faladeira de Santa Beryl (a ordem mais bizarra e hilária da qual se teve notícias) fez aquele truque da ervilha com três copinhos.

"É assim que acontece, você acha que está no topo do mundo, e de repente jogam o Armagedon em cima de você."

As personagens criadas por Gaiman e Pratchett são tão apaixonantes que poderia facilmente escrever um tratado de muitas e muitas páginas apenas falando delas, vou tentar apelar para o poder da síntese, mas não posso garantir nada.

Vamos começar com Aziraphale e Crowley que apesar de serem um anjo e um demônio vivem na terra há seis mil anos e não querem que ela seja destruída. As passagens com eles são memoráveis, gostei muito das divagações filosóficas, principalmente quando eles debatem sobre a natureza humana e demonstram verdadeiro assombro diante das coisas que as pessoas criam e fazem, como a bomba-âtomica e a inquisição, coisas tão absurdas que, segundo Crowley, nem mesmo o diabo as conceberia.

“Em matéria de maldades, humanos dão de dez a zero no capeta.”

E o que dizer dos "Os quatro cavaleiros do apocalipse"? Confere comigo: Guerra, Fome, Peste e Morte, certo? Errado. A Peste se aposentou em 1936 quando Alexander Flemming descobriu a penicilina. A forma como eles vão aparecendo no texto, a maneira como se adaptaram ao mundo contemporâneo é simplesmente fantástica.

Teve outras duas coisas relacionadas com as referências que falei lá em cima que gostei, primeiro aquelas que estão nos nomes das personagens, leitores de O Senhor dos Anéis não deixarão passar despercebido o nome da Pimentinha, por exemplo. E segundo quando ela confunde Metatron com megatron, impossível não se acabar de tanto rir.

"— Nossa — disse Aziraphale. É ele.

— Ele quem? – perguntou Crowley.

A Voz de Deus — disse o anjo. — O Metatron. Os Eles arregalaram os olhos.

Então Pimentinha disse:

— Não é não, O Metatron é de plástico e tem um canhão laser e pode se transformar num helicóptero.

— Esse é o Megatron Cósmico — disse Wensleydale fraco. — Eu tinha um, mas a cabeça caiu. Acho que este é diferente."

Destaque também para as bruxas da família Nutter, tanto Agnes que escreveu o livro "As Belas e Precisas Profecias de Agnes Nutter, Bruxa" que contém todas as previsões sobre o apocalipse, quanto Anathema Device, descendente de Agnes, para quem o livro foi escrito são personagens muito peculiares e encantadoras. Outra família que vale a menção é a Pulsifer nem que seja só pelos nomes com os quais costumava batizar seus filhos, nomes como Não-Cometerás-Adultério Pulsifer, que diga-se de passagem é um caçador de bruxas.

" – Amarrai bem – disse ao caçador de bruxas atônito. E então, quando os aldeões se aproximaram da pira, ela ergueu a bela cabeça à luz do fogo e falou: – Chegai mais perto, boa gente. Chegai perto até que o fogo quase vos queime, pois eu digo que todos devem ver como a última bruxa verdadeira na Inglaterra morre. Pois bruxa eu sou, por tal sou julgada, mas não sei qual possa de ser meu verdadeiro Crime. E portanto deixai minha morte ser uma mensagem para o mundo. Chegai mais perto, eu digo, e marcai bem o destino de todos os que lidam com coisas que não entendem.

E, aparentemente, ela sorriou e olhou para o céu sobre a aldeia e acrescentou:

– Isso tambem serve para você, seu velho tolo."

Enfim este é um dos melhores livros que já li, para além da minha idolatria com os autores a obra é simplesmente fantástica, todo texto é permeado de questões muito mais aprofundadas do que se pode pensar de um livro tão deliciosamente hilário e irônico, mas é só ir além para perceber que a obra é acima de tudo sobre os seres humanos e sobre aquilo que nos torna o que somos, Gaiman e Pratchett usaram toda a maestria e construiram personagens tão próximas de nós que a reflexão é inevitável.

Eu só gostaria de dizer — disse ele — que se não sairmos desta, que… eu sei que, bem no fundo, havia uma fagulha de bondade em você.

— Isso mesmo — disse Crowley amargo. — Estrague meu dia.

Aziraphale estendeu a mão.

— Foi bom te conhecer — disse.

Crowley apertou-a.

— Até a próxima — disse. — E… Aziraphale?

— Sim?

— Lembre-se de que eu sei que, no fundo, você era filho da puta o suficiente para valer a pena gostar.

Lumos

#lumosmaxima

1 – It’s Alive! Frankenstein, de Mary Shelley – A Dani fez uma resenha tri bacana sobre o livro que é um clássico do terror, lá no Trecos & Trapos.

2 – 20 Beautiful Private and Personal Libraries – O Flavorwire fez uma lista com 2 bibliotecas impressionantes, Neil Gaiman <3 e George Lucas estão por lá.

3 – Um conto inédito de Charlotte Brontë – Foi descoberto recentemente em um museu de Bruxelas um conto inédito de Charlottë Bronte, intitulado “L’Ingratitude” (A ingratidão). O trabalho data de 1842, quando Charlotte tinha, então, 26 anos, lá no excelente blog Leitura Brontëanas.

4 – Você é um leitor competente – Uma lista com 13 atitudes que demonstram a competência dos leitores, no blog Livros e Afins.

5 – A você, hipócrita leitor, meu igual, meu irmão (por supuesto) – Marcelo Franco fala sobre livros com dedicatória, na Revista Bula.

#nox

Dia Nacional da Poesia

Hoje é comemorado o Dia Nacional da Poesia, o dia foi escolhido em homenagem ao nascimento do poeta baiano Castro Alves, sua arte era encharcada pelo amor e pela luta por liberdade e justiça.

Para comemorar este dia especial elegi uma poesia que gosto muito, do poeta Olavo Bilac:

Via Láctea – Soneto XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas".

O jardim de Ossos

"Tudo aconteceu há 58 anos. Você era apenas um bebê na época e não pode se lembrar. Em verdade, eu mesmo quase me esqueci. Mas, nesta última quarta-feira, descobri um velho recorte de jornal que estivera todos esses anos dentro de meu antigo exemplar de Anatomia de Wistar e me dei conta de que, a não ser que falasse logo, tais fatos certamente morreriam comigo. Desde a morte de sua tia, sou a única pessoa que sabe da história. Todos os outros estão mortos." (pg. 10)

Quando vi que o tema de março do Desafio Literário 2012 era Serial Killer desanimei, ando sem paciência e estômago para livros muito pesados com descrições detalhadas e gráficas de crimes e atocidades em geral, e sendo assim coloquei só dois livros na lista apenas para não deixar o mês passar em branco, por isso a leitura de O jardim de ossos, Tess Gerritsen foi uma ótima surpresa.

O livro conta duas histórias uma que se passa nos dias atuais e outra datada de 1830, é claro que as duas estão interligadas. Tudo começa quando Julia, que comprou um casarão construído em 1880 encontra uma ossada em seu jardim, depois de uma investigação a polícia determina que o caso é para especialistas em antropologia visto que os ossos estavam enterrados muito antes da construção da casa.

Com esta descoberta Julia acaba conhecendo Henry, primo da antiga proprietária da casa e que possui uma série de caixas com documentos, cartas e jornais antigos que pode ser a chave para conhecerem a identidade da mulher enterrada no jardim. Junto com Julia e Henry somos levados a 1830 para conhecer Norris Marshall, Rose Connolly, Oliver Wendell Holmes e o Estripador de West End.

As narrativas se intercalam tecendo uma trama intrincada e inteligente, a história que se passa em 1830 é muito rica e detalhada e nos conta como o jovem estudante de medicina Norris é acusado de ser um assassino em série e a sua luta para provar que é inocente, ele conta com a ajuda da imigrante irlandesa Rose e do amigo Oliver, juntos eles vão juntando as peças do quebra-cabeça para descobrir quem é o verdadeiro Estripador de West End.

Tess Gerritsen tem aquela incrível capacidade de escrever de forma que fisga o leitor, com reviravoltas e suspense de tirar o fôlego é quase impossível largar a leitura. Sem dúvida é uma autora que vou procurar conhecer mais, pois ela conseguiu construir uma narrativa empolgante, recheada dos clichês do gênero, é claro, mas tão bem escrita que é fácil nos deixarmos levar pelas meticulosas e precisas descrições e quando nos damos conta já estamos totalmente envolvidos com a história.

GERRITSEN, Tess. O Jardim de Ossos. Tradução de Alexandre Raposo. Rio de Janeiro: Record, 2009.

Esta leitura faz parte do Desafio Literário 2012, cujo tema de março é Serial Killer.

Aqui é possível ler as resenhas dos outros participantes.