Friedrich Hölderlin

Há um tempo atrás, um amigo muito querido me apresentou o poeta Friedrich Hölderlin, fiquei profundamente emocionada com sua obra. Segundo os especialistas, sua poesia sintetiza a visão romântica sobre a natureza, o espírito da Grécia antiga e uma forma não-ortodoxa do cristianismo.
Hoje a poesia de Hölderlin possui grande destaque, no entanto era desconhecida até a metade do século XIX, e seus contemporâneos o consideravam um mero imitador de Schiller, com excessão de Friedrich Nietzsche que era um grande admirador do poeta, inclusive chamando-o de seu “liebling Dichter.”
O poeta nasceu em 20 de Março de 1770 em Lauffen. Em 1805 foi diagnosticado insano e em 1807 foi deixado aos cuidados de Ernst Zimmers, um carpinteiro grande admirador do poeta, que residia em Tübingen. Ele ainda escreveu alguns poemas utilizando o pseudônimo “Scardanelli” e mesmo tendo alguns períodos de lucidez não retornou mais ao convívio social até a sua morte, 36 anos depois, em 1843.
Torre de Hölderlin, Tübingen.
A forma como o primeiro contato com obra de Hölderlin me tocou foi tão forte, que sai em busca de mais e a cada leitura ficava ainda mais encharcada de admiração por este poeta fantástico. Trouxe um trecho de sua obra mais conhecida, a poesia, “A Canção de Hyperion”, (1797 – 1799).

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A Canção de Hyperion 

Oh santos gênios! Vós caminhais, 
lá por cima, em luz, sobre terra suave. 
Brilhantes deuses etéreos 
Tocam-vos levemente, 
Qual os dedos da artista 
nas cordas santas 

Sem destino, como a criança 
Adormecida, os anjos respiram; 
Castamente guardado 
Em discretos botões, 
O espírito floresce-lhes, 
Eterno, 
E os santos olhos 
Vêem em silenciosa 
E eterna claridade.

Aqui é possível ler a tradução de “No bosque”, feita por Igor Fracalossi,  aqui é possível escutar Martim Heidegger lendo o poema original em alemão e aqui é possível ler cinco poemas traduzidos por Luís Costa.
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Referências
COSTA, Luís. Friedrich Hölderlin ou a reconciliação dos contrários. Agulha Revista de Cultura #58. Fortaleza. jul/ago. 2007.
Friedrich Hölderlin. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012.
http://www.truca.pt/ouro/biografias1/friedrich_holderlim.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_H%C3%B6lderlin

Santô e os pais da aviação

“Santô e os pais da aviação: a história de Santos Dumont e de outros homens que queriam voar” é uma HQ deliciosa e como é baseada em uma caprichada pesquisa histórica, deixou de lado o tom ufanista com o qual nós brasileiros costumamos falar sobre a história da aviação. Para mim sem dúvida esse é o grande trunfo da obra, pois essa característica de enaltecer Santos Dumont como único “pai” da aviação, presente nas biogafias que li sempre me incomodou, e Spacca traz à luz a contribuição dos pioneiros, inclusive dos odiados irmãos Wright para o desenvolvimento da aviação.

“Agradecimentos
[…] Jacqueline Brendel, bisneta de Emmanuel Aimé. Pedi a mlle. Brendel que me enviasse pela internet uma fotografia de seu bisavô, um colaborador de Santos-Dumont pouco mencionado pelos biógrafos brasileiros e nunca identificado nas fotos. Não só tive uma ótima acolhida, como fui abastecido de recortes de jornais, fotografias de família e informações inéditas, o que causou mudanças importantes de roteiro com o trabalho já em fase de finalização.Esse novos dados serviram ainda para ajudar a identificar com mais precisão algumas fotografias que eu já conhecia. Sem sua ajuda, este livro seria apenas uma reciclagem criativa de material já publicado. Espero ter correspondido à sua generosidade e entusiasmo. (pg. 4)

A obra começa com um ótima introdução que instiga a curiosidade do leitor e o leva a mergulhar nas próximas páginas ávido conhecer melhor as figuras apresentadas. O desenrolar da história é muito interessante mesmo para quem já leu outras biografias de Santos Dumont, por que apresenta elementos novos e uma perspectiva nova sobre a vida de Santos Dumont e dos outros pioneiros da aviação. E o final mesmo já sendo conhecido desde o início, supreende pelo lirimos com que o autor o retrata.
Não possuo conhecimento aprofundado sobre a nona arte para tecer comentários críticos, mas como leitora leiga posso dizer que Santô tem uma arte agradável e bem acabada, assim como a edição caprichada da Companhia das Letras, é uma obra apaixonante que pode ser lida por todos com o mesmo deleite.

“eu lhe dou o futuro… esta é a sua parte na herança,
vá para Paris, estude mecânica…
o futuro está na mecânica…” (pg.14)

SPACCA. Santô e os pais da aviação: a jornada de Santos-Dumont e de outros homens que queriam voar. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

No site do autor é possível ler um pouco mais sobre o processo criativo desta excelente obra.

Essa leitura faz parte do Desafio Literário 2012  cuja temática do mês de Outubro era a leitura de  Graphic Novel.

Aqui é possível ler as resenhas dos outros participantes.

Onde Habitam os Dragões

“O que é isso? John perguntou.
O homenzinho piscou os olhos e arqueou uma sobrancelha.
É o mundo, meu rapaz disse ele. Todo o mundo, a tinta e sangue, velino e pergaminho, pele e couro. Isto é o mundo, e ele é seu para salvar ou perecer.”

Provavelmente tu já conheces esta história em que pessoas normais descobrem que um armário, um trem ou um buraco são portas de entrada para mundos mágicos e que eles possuem um grande poder desconhecido essencial para vencer o mal. A premissa de Onde Habitam os Dragões, primeiro volume da série As Crônicas do Imaginarium Geographica (James A. Owen) é exatamente essa, mas o autor vai bem mais além, ele consegue criar uma história que reúne diversas referências à literatura, à mitologia grega, às histórias bíblicas, ao mito arturiano e ainda assim tem um gostinho de novidade.

“Sob o oleado havia um grande volume encadernado a couro, desgastado com o uso – ou com muita idade. Estava amarrado na ponta aberta com tiras de tecido, e na frente, em baixo relevo, as letras ainda traziam vestígios reluzentes de acabamentos dourados, formando as palavras Imaginarium Geographica.
– Hmm. “Geografia da Imaginação”, não é isso? – perguntou Charles – Interessante.
– Quase – disse Bert – Uma tradução melhor seria menos literal: “Geografia Imaginária”.
– Imaginária? – perguntou John, espiando o livro enorme. – Para que serve um atlas de geografias imaginárias?
O sorriso rápido quase escondeu a sombra que passou pelo rosto e Bert quando ele respondeu. – Ora, você está naturalmente brincando às nossas custas, certo jovem John? Ele serve exatamente ao uso que se poderia imaginar: guiar uma pessoa para entrar, e sair, de terras imaginárias.
– Todas as terras que já existiram em mito e lenda, fábula e contos de fadas, podem ser encontradas aí dentro – continuou Bert – Ouroboros, Schlaraffenland e Poictesme, Lilliput, Mongo, Islandia e Thule, Pellucidar e Prydain; todas elas estão aí.
– Coletivamente, o lugar onde todas essas terras existem é chamado de Arquipélago dos Sonhos: e foi por este livro, este guia para o Arquipélago que o professor foi morto.” (pgs. 31-32)

A aventura começa em Londres no ano de 1917, com a reunião, de três jovens desconhecidos: John, Jack e Charles. O catalisador desse encontro é a morte do Professor Sigurdsson, tutor de John. Após esse primeiro contato os três acabam por conhecer um homem inusitado chamado Bert, que lhes conta que eles são os guardiões do Imaginarium Geographica, um peculiar atlas que reúne todas as terras que já existiram na imaginação. Obviamente os três jovens, como bons homens de Oxford, não acreditam em uma palavra do desconhecido, no entanto a chegada de estranhas criaturas chamadas “Wendigo” desencadeia uma fuga desenfreada para salvarem suas vidas.

Eles partem no navio de Bert, o fantástico Dragão Índigo, e navegando pelo Tâmisa atravessam a tênue fronteira dos mundos e chegam ao Arquipélago dos Sonhos.
Não tendo mais como ignorar as evidências de que estão de fato em um mundo no mínimo curioso, John e seus companheiros descobrem que precisam manter o “Imaginarium Geographica” a salvo do Rei do Inverno, que tem a intenção de dominar o Arquipélago e o mundo dos homens para transformá-los em um mundo de sombras. A história é recheada de aventura, magia, traições e nos lança em uma jornada fantástica onde vemos pessoas lutando contra seus demônios para juntos lutarem contra um mal muito maior.
“Onde Habitam os dragões” é um livro fantástico, com uma história rica e bem construída e que acima de tudo é uma homenagem aos grandes nomes da literatura que o precederam.