O diário de Brigedt Jones

Escrito na forma de diário, o romance relata um ano na vida de Bridget Jones, uma solteira de trinta e poucos anos, que luta com todas as forças para emagrecer, encontrar um namorado, parar de beber e largar o cigarro. Uma história aparentemente comum, mas narrada em estilo impecável e com extrema sensibilidade pela jornalista britânica Helen Fielding. Bridget trabalha em uma editora, mora sozinha, é apaixonada por seu chefe e cultiva o hábito de conversar com amigas que, em torno de uma mesa de bar, sempre têm soluções teóricas para todos os problemas. É impossível ler este diário e não se identificar com a protagonista. O mundo está mesmo repleto de Bridgets.

 

0-0 Eu escolhi esse livro por ele ser considerado o precursor dos Chick-lits, que foram o tema desse mês no desafio literário.

Essa leitura foi uma decepção, é recheado de esterótipos e clichês, tudo de maneira superlativa e caricata, e essa sinopse me dá medo, como assim é impossível não se identificar com Bridget?! Eu não senti nenhum tipo de identificação com essa personagem, e o que me chocou mesmo é que sim o mundo está cheio delas.

A personagem da Bridget me incomodou muito, tenho sérios problemas em compreender pessoas como ela, que sempre projetam nos outros a sua própria felicidade e que se sentem vitimas do mundo e não fazem muita coisa para mudar.

O estilo narrativo da autora é em legal, gosto de livros escritos em forma de diário, mas a história realmente não me conquistou. É claro que o livro tem tiradas engraçadas e hilárias, mas para mim não passou disso, de uma amontoado de piadas.

 

Esta leitura faz parte do Desafio Literário by RG.

 

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Travessuras da menina má

o-travessuras-da-menina-ma Travessuras da menina má (Alfaguara, tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht, 2006, 302 páginas), de Mario Vargas Llosa, é uma história de amor, um amor doentio é verdade, mas mesmo assim amor.

A narrativa se estende pela segunda metade do século XX e nos leva do Peru à Paris, Londres, Tóquio e Madri sempre no encalço dos encontros e desencontros de Ricardo Somocurcio e da menina má, nos anos 50 quando os dois se conhecem ela se chama Lily e é uma pequena ‘chilenita’ que perturba a paz das ordeiras e recatadas famílias do bairro de Miraflores, em Lima.

Na década de 60, Ricardo realiza seu sonho de morar em Paris, onde trabalha como tradutor na UNESCO, leva uma vida pacata e tranquila, mas auxiliar um amigo, com um grupo de jovens peruanos que se alistaram no MIR, grupo revolucionário que desejava dar um golpe de estado semelhante ao de Fidel no Peru, ele acaba encontrando a camarada Arlette, que não é ninguém menos que a Lily da sua infância. Com a partida da menina má para Cuba, Ricardo mergulha cada vez mais no trabalho e depois tem apenas notícias desencontradas sobre a guerrilheira e qual não é a sua surpresa quando a reencontra, em pleno saguão da UNESCO, casada com um diplomata francês e agora se chamada de madame Robert Arnoux. Mais um capítulo desta conturbada história se escreve em meio a furtivos encontros, que são bruscamente interrompidos por mais um sumiço da menina má.

Levado a Londres, nos anos 70, por causa seu trabalho, Ricardo tem mais um encontro emblemático com a menina má, que agora se chama Mrs. Richardson, e assim mais um longo pedaço desta história pra lá de perturbadora se escreve.

Depois de mais uma partida da menina má, Ricardo como sempre se joga no trabalho, e volta a sua rotina que é interrompida quando recebe carta de um amigo que está na no Japão que vem com um post scriptum assinado pela menina má. Ele se esforça até o limite e consegue ir para o Japão e lá se depara com uma ‘japonesinha’ chamada Kuriko que nada mais é do que escrava do pavoroso Senhor Fukada, em uma relação ainda mais doentia da que ela tem com Ricardo.

Chocado com tudo que vivencia em Tóquio, Ricardo volta à Paris disposto a esquecer a menina má e realmente se empenha, mas assim que ela volta a Europa, doente física e mentalmente, ele emprega todos os seus esforços em curá-la, inclusive se casa com ela, para que ela possa ser legalmente uma cidadã francesa, só para mais uma vez ser abandonado por ela.

O último encontro dos dois se dá em Madri, nos anos 90, para onde Ricardo se mudou com a jovem Marcella, uma doce italiana muito mais nova que ele. Ao descobrir que a jovem se apaixonou por um colega de teatro, Ricardo reencontra uma colérica menina má, injuriada com a “traição” de Ricardo ao se apaixonar por outra.

A menina má está gravemente doente, em fase terminal e quer passar seus últimos dias com Ricardo e assim mais uma vez vemos os dois se envolverem nessa teia emaranhada de emoções indefiníveis e que fazem deste romance uma obra perturbadora e ainda assim maravilhosa.

Llosa criou uma história que ecoa em nossas mentes dias depois de terminada a leitura, ela fica lá martelando, imagens mentais deste romance vão e vem com uma facilidade incrível, hora odiamos a menina má com todas as nossas forças, como pode ser tão cruel com quem só lhe fez bem, é pergunta mais que recorrente, hora odiamos a palermice de um apático Ricardo que se deixa manipular em nome do amor. Enfim é um romance ao qual não podemos ser indiferentes.

 

Esta leitura faz parte do desafio literário, cujo tema de maio era a leitura de um autor latino-americano. Para conferir as resenhas dos outros participantes é aqui.

 

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O ladrão de raios

o-ladrao-de-raios1 O Ladrão de Raios (Intrínseca, tradução de Ricardo Gouveia, 2008, 387 páginas), de Rick Riordan é o primeiro livro da série Percy Jackson e os Olimpianos e nos apresenta a história de um garoto que descobre que os deuses do Olimpo estão vivos e que ainda tem filhos com mortais, e Percy descobre justamente que é filho de um deles e que seu melhor amigo é um sátiro.

Nesta primeira aventura, Percy é apresentado à este novo mundo completamente desconhecido, onde deuses, minotauros, centauros e muitos outros seres mitológicos estão bem ali se olharmos bem.

Em um acampamento especial para os filhos de deuses com mortais, Percy descobre que é filho de Poseidon e que isso o torna especial, pois Poseidon, Zeus e Hades haviam feito um pacto de não terem mais filhos, além desta carga Percy ainda está sendo acusado de ter roubado de Zeus o raio-mestre e precisa resgatá-lo, junto com seus amigos Grover e Annabeth e ainda descobrir seu verdadeiro ladrão antes que comece uma grande guerra.

Muita ação e desafios estão presentes na jornada de Percy e seus amigos, de encontros com Medusa e Ares até o esperado encontro de Percy com seu pai.

As referências mitológicas fazem a história ficar muito interessante, transformando a aventura de Percy em uma agradável surpresa.

 

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O morro dos ventos uivantes, Emily Brontë

Ventos Uivantes - Livro O morro dos ventos uivantes (Abril Cultural, tradução de Oscar Mendes, 1971, 313 páginas), de Emily Brontë é considerado um dos grandes clássicos da literatura e conta a história do amor conturbado entre Catherine e Heathcliff. Amor é mais uma força de expressão tal a capacidade destruidora dos sentimentos dos protagonistas.

A obra é narrada em terceira pessoa, e é escrita de tal forma que nos faz querer saber o desfecho de tão sombria e conturbada história.

Tudo começa quando Heatcliff ainda menino é levado para casa pelo Sr. Earnshaw, e é “adotado” pela família, a adoção se dá apenas por parte do próprio Sr. Earnshaw e por sua filha Catherine, pois seu primogênito o odeia. O amor entre Catherine e Heatcliff é intenso porém sombrio, as personagens se rendem aos seus caprichos, e colocam outros interesses acima deste amor, que dizem ser imenso.

Catherine tem um temperamento difícil, é geniosa, mimada e egocêntrica, Heathcliff é um anti-herói em sua acepção mais plena, é rude, grosseiro e rancoroso.

Heatcliff some após ouvir Catherine dizer que irá se casar com Edgar Linton, e só volta tempos depois, instalando-se, para surpresa de todos, no Morro dos ventos uivantes, propriedade de irmão de Catherine que é seu inimigo. Lá ele começa a criar um vínculo com Hareton, sobrinho de Catherine, e ardilosamente a se tornar dono da propriedade.

A história decorre com acontecimentos tão inusitados que espantam até os mais avisados sobre as particularidades do romance, como o casamento de Heathcliff com Isabel, cunhada de Catherine e a posterior fuga dela ou então o nascimento da filha de Catherine, sem que a gravidez tenha sido mencionada uma vez sequer.

É sem dúvida uma obra magistral, com um texto primoroso e que nos mostra que mesmo que não nos identifiquemos com as personagens, ou para além disso que as detestemos podemos perceber a grandeza de um livro em cada linha, em cada palavra!

 

Se tudo perecesse, mas ele ficasse, eu continuaria a existir. E, se tudo permanecesse e ele fosse aniquilado, o mundo inteiro se tornaria para mim uma coisa totalmente estranha. (…)

Passeando por ai encontrei uma árvore genealógica dos personagens do livro, eu que adoro genealogia achei bem legal 😀

 

Wuthering_Heights_Genealogy

Essa foi a minha leitura para o Desafio Literário, cujo tema do mês de março era a leitura de um clássico da literatura universal.

Roverandom

roverandom Roverandom (Martins Fontes, tradução de Waldéa Barcellos, 2003, 127 páginas), de J.R.R. Tolkien narra a história de um cãozinho que foi enfeitiçado pelo mago Artaxerxes e virou um cão de brinquedo, e que por conta disso vive muitas aventuras. Depois do feitiço ele é dado de presente à um menino que o perde na praia. E ao conhecer outro feiticeiro é que começam as aventuras de Rover, pois Psamatos Psmatides, o feiticeiro da areia o envia para Lua e lá ele vive muitas aventuras junto de outro cão chamado Rover e passa a se chamar Roverandom, depois de muito tempo na lua, Rover retorna à praia e logo depois viaja para o fundo do mar para procurar o mago que o enfeitiçou para tentar voltar a ser de verdade. Lá ele vive mais aventuras até poder retornar à sua antiga dona e ter uma surpresa.

Tolkien escreveu esta história em 1925 para consolar seu filho, Michael que durante as férias na praia perdeu seu cãozinho de brinquedo e hoje 85 anos depois ela ainda encanta. É uma leitura leve mas primorosa, bem característica de Tolkien, com ótimas e ricas descrições, seres mágicos e muita aventura.

Esta leitura faz parte do desafio literário, cujo tema de fevereiro é um livro que nos remeta aos contos de fada. Veja outras resenhas aqui.

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O inimigo secreto, Agatha Christie

o-inimigo-secreto O inimigo secreto (BestBolso, tradução de A.B. Pinheiro de Lemos, 2009, 319 páginas), de Agatha Christie nos apresenta a primeira aventura do casal Tommy e Tuppence. Os dois são amigos de infância e durante uma conversa decidem fundar uma empresa de investigação, a Jovens Aventureiros Ltda.

O primeiro trabalho deles surge de forma bastante peculiar, Tuppence é abordada por um senhor, chamado Whittington que ouviu a conversa entre o casal quando eles decidiram fundar a agência. No encontro marcado ela se apresenta como Jane Finn, pois fica receosa de dizer sua verdadeira identidade para este excêntrico senhor. Assim que ela pronuncia o nome ele fica transtornado, e depois de fazer muitas perguntas à jovem decide lhe dar uma soma em dinheiro e pede que ela volte na manhã seguinte, mas na manhã seguinte ele já havia sumido.

Após este estranho acontecimento Tuppence e Tommy ficam muito curiosos a respeito de Jane Finn e querem a qualquer custo descobrir o que há por trás deste misterioso nome, decidem então colocar um anúncio no jornal ao qual respondem dois senhores, o primeiro deles Sr.º Carter que diz trabalhar para o governo inglês e quer contratar os serviços da Jovens Aventureiros Ltda, e Julius Hersheimer que se diz primo de Jane Finn.

O único dado efetivo que eles tem sobre a moça desaparecida é que ela embarcou em um navio rumo à Europa e depois disso sumiu, possivelmente portando documentos secretos que poderiam comprometer o governo inglês.

Enveredados em uma trama cada vez mais intrincada o jovem casal descobre que não são os únicos que querem saber o que aconteceu com Jane Finn, que em seu encalço também está um homem misterioso que é conhecido apenas por Sr.º Brown.

Uma trama ágil e recheada de suspense que nos surpreende até a última linha não só pela maestria com que Agatha Christie conduz a história mas também pelo humor presente em cada página.

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p.s. Ontem alguém sentiu falta da estante de quinta? Pois é,  uma otite absurda me tirou de circulação, e no pouco tempo que entrei na net ontem me esqueci mesmo. Semana que vem prometo caprichar na escola! 😀

Caminhos Cruzados, Érico Verissimo

Caminhos Cruzados (Globo, 299 páginas), de Érico Veríssimo é uma obra que sempre surpreende. A história não tem personagens centrais, não tem heróis nem mocinhas. É uma teia de histórias que se entrelaçam de uma maneira tão real, tão possível que até assusta.

Fica ao gosto de leitor decidir qual história é central, se é a de Fernanda ou Chinita quem sabe, ou mesmo a de Janjoca, ou talvez de Cacilda? Certo apenas é que nos enveredamos por dramas reais e imaginários, vidas sofridas e vidas felizes.

Cada personagem se apresenta de maneira única, cada um deles é um universo dentro da tecitura criada pelo autor, mas todos eles se encontram interligados por estes caminhos cruzados.

As personagens são uma perfeita caricatura da sociedade Porto Alegrense ainda na época dos casarões do Moinhos de Vento, é fácil nos ansiarmos diante da demagogia hipócrita de Leitão Leiria e sua fervorosa esposa dona Dodô, sempre posando de bons cristãos, mas apenas dois espíritos ???? revestidos pelo simulacro da caridade e da benevolência. Ou então nos compadecermos da situação de João Benévolo, amante dos livros, desempregado, sem perspectivas e com mulher e filho.

Quem sabe a identificação venha com Fernanda, guria boa, pobre, que trabalha de sol a sol, cuida da mãe, do irmão e sonha com Noel, este moço que vive no mundo da fantasia, recebendo mesada do pai, ignorado pela mãe.

A miríade de personagens torna fácil se perder no meio de tantas nuances, de tão diversas personalidades e é isto que dá graça e corpo a esta história que não é só uma, mas múltiplas histórias de caminhos cruzados.

A vida, prezado leitor, é uma sucessão de acontecimentos monótonos, repetidos e sem imprevisto. Por isto alguns homens de imaginação foram obrigados a inventar o romance. (Professor Clarimundo)

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O misterioso caso de Styles

O.Misterioso.Caso.de.Styles O misterioso caso de Styles (BestBolso, tradução de A.B. Pinheiro de Lemos, 2008, 235 páginas), de Agatha Christie é o primeiro romance da autora e foi publicado originalmente em 1917. A história é narrada por Hastings e se concentra no mistério que envolve a morte da Srª Inglethorp, dona da mansão de Styles. Aparentemente ela morreu de ataque cardíaco, no entanto outras evidências levam a crer que ela pode ter sido envenenada.

Na época da morte, Hercule Poirot está refugiado na aldeia próxima à mansão e como é amigo do Sr.º Hastings este sugere aos enteados da falecida que ele cuide do caso em segredo.

Poirot faz uso de métodos bastante peculiares para desvendar um mistério, mas é sempre certeiro. Todos na mansão tinham motivos para matar e todos os álibis se mostraram frágeis diante dos argumentos de Poirot. Instaura-se portanto um verdadeiro mistério, onde todos são suspeitos, há provas contra todos.

Poirot vai pouco a pouco montando um mapa, juntando peças, levantando suspeitas e na metade do livro temos plena convicção de que sabemos o culpado para logo em seguida termos nossa teoria posta à prova pelas geniais células cinzentas do detetive que subverte os motivos, e nos mostra uma novo ângulo da história e obviamente nos surpreende com uma teatral reviravolta nos últimos instantes.

Agatha Christie é sempre garantia de boa leitura, momentos gostosos em que mergulhamos em suspense e este livro não foge à regra.

Esta leitura foi a primeira do Projeto Agatha Christie capitaneado pela minha amiga Tatá.

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O vinhedo, Bárbara Delinsky

vinhedo Faz dias que terminei minha primeira leitura para o Desafio Literário e confesso que demorei para escrever a resenha, assim como demorei para decidir o livro. Decididamente, este tipo de literatura, mais água com açúcar não é para mim 😉

E vamos a resenha:

O vinhedo (editora Bertrand Brasil, 2006, 434 páginas), de Bárbara Delinski nos leva para o Vinhedo de Aquonset junto com Olivia Jones, que foi contratada para escrever as memórias da dona do local, Natalie Seebring, cuja família considera uma mulher refinada e dedicada as rodas sociais mas que choca a todos quando seis meses após ficar viúva anuncia seu casamento com um empregado do vinhedo. Diante da indignação do filho e da filha, é que ela resolve escrever sua história, na esperança de que eles compreendam suas motivações.

Olívia vê sua ida para Aquonset como uma tábua de salvação, ela está prestes a ficar desempregada, sua filha sofre de discriminação por ser disléxica, tem um namorado de quem não gosta, sua mãe a abandonou quando ela tinha 17 anos e seu maior sonho é ter uma família.

A ida para Aquonset mostra a Olívia uma realidade e uma história bastante diferente da que ela havia idealizado através das fotos de Natalie que ela restaurou. Ela então precisa desconstruir este imaginário para se abrir para a história real.

Natalie é uma personagem forte, que soube usar as adversidades como propulsores para a luta diária da vida. As partes em que relata suas memórias para Olívia são sem dúvida uma parte muito interessante da trama, fazendo inclusive com que Olívia deixe de enxergar o passado com lentes cor de rosa.

O que incomoda na história é a previsibilidade dos acontecimentos, não há surpresas, os clichês percorrem os dois fios narrativos do livro, a história de Natalie e a história de Olívia.

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Os aparados, Letícia Wierzchowski

lw_os aparados Os aparados (Record, 2009, 236 páginas), de Letícia Wierzchowski é uma história que se passa em um futuro indefinido, onde as chuvas já alagaram grande parte das cidades e nos conta a história de Marcus e Débora, avô e neta. Diante do caos que tomou conta de Porto Alegre, Marcus decide levar Débora que está grávida de 7 meses para a casa que tem na região dos aparados da serra.

A indefinição temporal da história é desconcertante e detalhes como carros híbridos, movidos tanto à gasolina como à luz elétrica e acesso à internet no alto dos aparados deixam a obra com um ar de ficção científica, mas a trama está para além disso, pois Letícia volta sua escrita para as relações humanas, o que torna secundária as alegorias futurísticas dando muito mais dramaticidade as complexas relações entre o avô e a neta.

A relação entre Marcus e Débora é conturbada e distante, eles são a única família um do outro, mas são completos estranhos. A morte da mulher e da filha, da avó e da mãe deixaram marcas profundas nos dois, e os afastou ainda mais. Marcus vê a gravidez de Débora como o único laço a unir os dois, mas ela não pensa assim, e quer de qualquer maneira fugir do controle do avô.

A tensão é quase como uma personagem, está ali sempre presente, se fazendo sentir em cada entrelinha, o que torna a narrativa e a evolução do relacionamento dos dois ainda mais dramática.

É uma boa história, densa, bem construída, com pitadas de realismo fantástico, bem características de alguns escritos da autora, bastante peculiar e cheia de surpresas.

Ele sussurra algumas palavras, agradece essa visita, essa súbita união de espaços, esse vacilo da engrenagem da vida.

Como um presente, encontrou esta brecha na tecedura do Tempo.

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