Os Sete Selos

"Ah Deus!

– Porque vocês continuam falando o nome dele? Acreditem em mim, Ele não vai ajudar agora. Na verdade, eu espero que Ele não atrapalhe”. pg. 55

Uma organização denominada de a “Agência” cuja finalidade é lidar com eventos sobrenaturais, se depara com acontecimentos que estão além da compreensão até mesmo de seus mais renomados especialistas. Diante desta situação uma equipe bastante incomum se forma: uma agente cumprindo suspensão, um ex-agente expulso por mau comportamento e um demônio. É deles a missão de descobrir quem matou o bispo Claude e porque.

A personagem central é Lara Carver, uma jovem e brilhante agente que tem problemas em lidar com hierarquia e protocolos, é através dos olhos dela que vemos a narrativa se desenvolver. Depois de se ver obrigada a conviver com o demônio Lucius, assassino de seu pai e também com seu amigo de infância Jason, ela começa a descobrir os motivos que levaram os anjos a iniciarem uma guerra contra os humanos e principalmente sobre si mesma.

A narrativa é simples, mas a história é bastante rica e prende a atenção até mesmo nos momentos em que aparecem algumas incongruências em relação à idade da protagonista: na sinopse nos é informado que ela tem 21 anos, mas em outras duas passagem ela tem respectivamente 23 e 25 anos, e temos também outras informações adicionais com relação a amizade dela com Jason que fazem com que estes dados fiquem ainda mais confusos.

Já Lucius é uma personagem realmente fascinante e a que mais me cativou, fiquei com um gosto de quero mais em relação a ele, de saber sobre sua personalidade peculiar mais aprofundadamente, de compreender os intrincados acontecimentos que o levaram a ser como ele é.

O texto podia ter sido melhor lapidado e alguns aspectos da história melhor amarrados, mas para além destes pontos negativos a autora se apropriou de mitos e simbologias de forma bastante criativa, conseguindo com isso construir uma história empolgante sobre uma temática muito explorada.

SALAZAR, Luiza. Os Sete Selos. São Paulo: Editora Underworld, 2010.

A sangue frio

Faz um tempão que tenho esse livro e o desafio literário foi uma ótima oportunidade de leitura desta obra que é envolta em mitos e polêmicas. Para minha experiência de leitura é fundamental saber mais sobre o contexto em que a obra foi escrita, por isso fiz uma pesquisa básica sobre o processo de escrita do Truman Capote e descobri coisas bastante peculiares, como o fato de que durante os seis anos de pesquisa ele criou uma relação de amizade com os assassinos Perry Smith e Richard Hickcock, que o livro precisou aguardar a execução dos mesmos para ser lançado.

Essa longa pesquisa feita pelo autor resulta em uma narrativa minuciosa e detalhada dos últimos dias de vida de quatro membros da família Clutter, e também da mente criminosa dos assassinos, no entanto a linha tênue entre a veracidade dos fatos e a romantização dos mesmos foi discutida à exaustão, porém isso não tira o brilho da obra que é muito bem escrita.

O estilo da narrativa de Truman é tão detalhado que em alguns momentos chegou a me cansar, isso só não foi uma constante no texto inteiro porque a história real é contada como um romance de ficção, daqueles bem bons e o domínio do autor sobre o texto deixa ele fluído. O grande trunfo do livro é mesmo o tom da narrativa e a forma como ele é conduzida e nos deixa a leitura inteira em expectativa o que convenhamos é muita coisa em se tratando de uma história amplamente conhecida sobre um homem religioso, uma mãe com tendências depressivas, uma garota, um adolescente e dois ladrões frustrados.

Enfim “A sangue frio” se trata de um livro que agrada tanto a quem procura um bom romance, quanto quem quer conhecer mais sobre uma história real muito bem contada.

Esta leitura é a primeira para o Desafio Literário 2011 cujo tema do mês de maio é a leitura de um Livro-Reportagem

Confira no blog do Desafio as resenhas dos outros participantes.

UPDATE:

Caros leitores!

Ainda não consegui identificar o erro que está impedindo os comentários nesta postagem, agradeço a todos que me avisaram do ocorrido, assim que o problema for resolvido aviso vocês.

estrelinhas coloridas…

Da Terra à Lua

Minha terceira e última leitura com a temática Ficção Científica também foi uma obra de Júlio Verne, mas dessa vez a inventividade e a aventura se fizeram presente desde o início da trama, originalmente publicada em capítulos no Journal des Débats, em 1865.

Da Terra à Lua narra a saga dos membros do Clube do Canhão para dar vida à ideia de construir um canhão gigantesco para lançar um projétil à lua. A experiência é proposta por Barbicane, presidente do Clube que vendo como seus membros estão ociosos com o fim da Guerra da Secessão revolve empreender uma aventura até então jamais vista.

Com um humor irônico e sagaz o autor faz a narrativa fluir de forma agradável, com explicações mirabolantes para os percalços que aparecem para o sucesso do empreendimento. É realmente admirável que as personagens em nenhum momento duvidam que tudo dará certo, nem mesmo quando um francês chamado Michel Ardan se propõe a ser tripulante do projétil.

Tudo na trama é gigantesco, o canhão construído na Flórida, a bala oca, o telescópio e a quantidade de pólvora usada são de proporções impensáveis, mas a despeito de todos as adversidades a bala é lançada com sucesso, mas quando se aproximou do satélite ao invés de aterrissar a bala entrou em órbita da própria lua. Aqui podemos realmente ver a veia irônica do texto de Verne, quer coisa mais irônica do que os candidatos a exploradores do satélite se transformarem em satélite dele? Dentro da bala existiam suprimentos para a sobrevivência dos astronautas por 3 meses, o futuro deles é descrito no livro À roda da Lua.

Uma curiosidade sobre esta obra é que o local do lançamento da bala de canhão tripulada, em Tampa, nos EUA fica apenas a 30Km de onde foi lançada a Apollo11, cerca de 100 anos depois.

VERNE, Júlio. Da Terra à Lua. São Paulo: Melhoramentos, 1982.

Esta leitura é a terceira para o Desafio Literário 2011 cujo tema do mês de abril é a leitura de obras de Ficção Científica.

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O Raio Verde

Alguma vez você já observou o pôr-do-sol sobre o mar? Já o observou até que a aba superior de seu disco, tocando de leve a superfície da água, estivesse prestes a desaparecer? Muito provavelmente sim, mas você já notou o fenômeno que ocorre no preciso instante em que o corpo celestial irradia seu último raio, e que, quando o céu está limpo, é de uma pureza inigualável?”

Julio Verne é considerado por muito críticos o precursor do gênero Ficção Científica e foi com conhecimento de causa que coloquei ele na lista do Desafio Literário , já li alguns livros dele que me encantaram demais, por isso minhas expectativas para a leitura de O Raio Verde eram altas.

O livro conta a história de Helena, uma moça rica e extremamente mimada pelos tios que após ler um artigo no jornal, decide sair pelo mundo em busca da visão do Raio Verde, cuja lenda diz que quem o enxergar terá certeza quando encontrar seu verdadeiro amor.

Acostumada com leituras de Ficção Científica focadas na aventura e na ação estranhei um pouco o tom desta narrativa que a princípio se mostrou cansativa e enfadonha, focada apenas nos caprichos de Helena, que em nenhum momento causou empatia, na verdade achei-a detestável, cheia de vontade e caprichos. Achei a história muito superficial e sem o aprofundamento técnico tão comum ao gênero e até mesmo à obra do Verne, tudo gira em torno das aventuras que a moça e seus tios passam para ver o tal Raio Verde, que nada mais é que o último raio que o sol emite sobre o mar quando está se pondo, mas as tais aventuras não empolgam, para mim o único alento na leitura foi a figura peculiar de Aristobulo Ursiclos que é uma personagem irritantemente hilariante, enfim foi uma leitura rápida e que não acrescentou nada, fiquei com a sensação de Verne não usou nem uma parte infinitesimal da sua mente brilhante para escrever este livro.

VERNE, Júlio. O Raio Verde. São Paulo: Melhoramentos, 1982.

Esta leitura é a segunda para o Desafio Literário 2011 cujo tema do mês de abril é a leitura de obras de Ficção Científica.

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Laranja Mecânica

Quando vi o tema do mês de abril do Desafio Literário não tive dúvidas que ia incluir Laranja Mecânica como livro principal, fazia muito tempo que queria ler esta obra e por motivos que fogem a minha compreensão sempre adiava. Como eu não tinha o livro sai à caça dele, no Skoob descobri que ele tem várias edições e assim que bati o olho na capa da edição de 1962 coloquei na cabeça que queria esta edição, por dias e dias entrei na Estante Virtual para ver se encontrava e nada, isso foi no início de fevereiro, em 29 de março me dei por vencida e encomendei a nova edição da Editora Aleph e não me arrependi, eles fizeram um trabalho impecável.

O livro, escrito em 1962, é narrado em primeira pessoa por Alex, um adolescente que se orgulha dos atos violentos cometidos em uma sociedade futurista que não é situada temporalmente. A narrativa é feita em uma linguagem estranha, permeada de gírias Nadsat, que foi criada pelo autor baseada no idioma russo, confesso que depois de umas 10 páginas eu conferi o glossário que tem no final do livro, muitas pessoas recomendam ler e ir intuitivamente compreendendo o significado dos termos, para mim não funcionou e a leitura fluiu muito melhor depois da leitura do glossário.

Laranja Mecânica é daqueles livros que incomodam, a leitura é difícil não pela linguagem mais sim pelo conteúdo. As reflexões que fatalmente surgiram durante a leitura ficam ecoando na mente, é como a sensação de ficar cutucando um machucado, o principal questionamento que a leitura me provocou foi até ponto a violência, em níveis absurdos diga-se de passagem, é justificativa para privarmos um ser humano do livre-arbítrio? Quando Alex é preso por seus inúmeros crimes, ele é “voluntário” para experimentar a “Técnica Ludovico” que nada mais é do que a manipulação do cérebro por meio de drogas, música e vídeos, tudo isso embasado no princípio de condicionamento proposto por Pavlov e é não é mais capaz de nem sequer pensar nos atos que cometeu sem que isso tenha consequências físicas.

A reintegração de Alex à sociedade é outro momento da narrativa do qual emergem muitos questionamentos, como por exemplo quando ele encontra uma de suas vítimas, é impossível não se incomodar com a situação como um todo, não se questionar que tipo de sociedade produz jovens como Alex. Diante de tantas reflexões que este livro provoca. acredito que esta é uma daquelas leituras que todos devam fazer pelo menos uma vez.

Laranja Mecânica foi adaptado para o cinema pelo diretor Staley Kubrick em 1971, mas sem o capítulo final.

BURGESS, Anthony. Laranja Mecânica. Tradução de Fábio Fernandes. São Paulo: Aleph, 2004.

Esta leitura é a primeira para o Desafio Literário 2011 cujo tema do mês de abril é a leitura de obras de Ficção Científica.

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Crônicas do Mundo Emerso – A Garota da Terra do Vento

[…] é o menor e mais afastado país do Mundo Emerso. Localizado no Oeste, de um lado é fechado pelo Saar, o Grande Rio, e do outro é ameaçado pela Grande Terra. Não há um só lugar de onde não se veja a alta torre da Fortaleza, a morada do Tirano. Como sombria e onipresente ameaça, ela domina a vida de todos os habitantes da área. Lembra a todos que não há lugar onde a mão do Tirano não possa alcançar. Apesar disto, o reino ainda continua parcialmente livre.

Relatório anual do Conselho dos Magos, fragmento.

Uma das minhas fontes mais prolíficas de indicações literárias é sem dúvida o Fórum Meia Palavra, a cada visita são feitos acréscimos na lista de futuras leituras, e foi lá que ouvi falar de “As Crônicas do Mundo Emerso” da escritora italiana Licia Troisi e como o tópico do livro tinha uma discussão bem interessante resolvi conferir a trilogia.

No primeiro livro, “A garota da terra do vento” conhecemos Nihal, uma menina cuja vida se resume a passar os dias entre as torres da cidade com sua turma de garotos, brincando de ser guerreira, ela está acostumada a vencer sempre, mas um dia é desafiada por um garoto estranho chamado Senar e pela primeira vez perde uma luta. Esta derrota a leva a decidir que precisa aprender magia, pois acredita que só perdeu porque Senar é um mago. É isso que a leva a descobrir que tem uma tia chamada Soana que além de maga também é conselheira do Conselho dos Magos do Mundo Emerso. Mas antes de iniciar seu treinamento em magia ela tem é surpreendida pela presença de Senar que também é aprendiz de Soana.

Mas os problemas pessoais de Nihal são nada comparados à guerra em que O Mundo Emerso está imerso, o vilão conhecido como Tirano criou seres chamado fâmins única e exclusivamente para comporem seu exército e a fúria dele alcança a Terra do Vento, lançando Nihal em uma aventura muito maior do que ela jamais imaginou.

Gostei muito da história, a narrativa é dinâmica e fluída, não existem digressões nem pontas soltas, nada está ali por acaso tudo tem sentido e pertinência para o desenrolar da história e isso me conquistou muito. A linguagem a princípio me causou um certo estranhamento principalmente pelo uso do tu, ao invés de você e veja bem isso é bastante curioso porque eu estranhei um livro escrito da mesma forma que eu falo apenas por que isso não é usual, mas no decorrer da leitura isso acabou criando uma identidade muito forte para a mim.

Licia criou personagens fortes e com dilemas aprofundados que enriquecem a obra de tal forma que até mesmo o contexto bastante comum do universo fantástico, com magia, dragões e guerras não ofusca a riqueza da história que ela construiu.

TROISI, Licia. Crônicas do Mundo Emerso: Livro 1 – A Garota da Terra do Vento. Tradução de Mario Fondelli. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.

O Clube Filosófico Dominical

Eu adoro livros de mistério e investigações e quando encontrei “O clube filosófico dominical” de Alexander McCall Smith achei o título irresistível, some-se a ele a promessa de uma história que junta uma personagem que é filósofa, uma morte ocorrida em uma sala de concertos e que se passa em Edimburgo, Escócia, acrescente ainda nessa equação o fato de ter lido outros livros do autor que em agradaram e pronto minhas expectativas estavam nas alturas.

É claro que esperando tanto assim desta leitura era fato que eu iria me decepcionar, e realmente o gosto amargo da decepção me perseguiu em cada linha, principalmente porque ela veio de onde eu mesmo esperei.

O livro conta a história de Isabel Dalhousie, filósofa escocesa que assiste à morte de Mark Fraser, um total desconhecido quando este cai de uma galeria do teatro. No momento da queda os olhares dos dois se cruzam e partir dai Isabel se sente com a obrigação moral de descobrir o que aconteceu com o rapaz, sim, é isso mesmo só porque os olhos dela cruzaram com o dele por uma fração infinitesimal de tempo, ela acha que tem o direito, opsss o dever de chafurdar na vida de um completo desconhecido.

As divagações filosóficas de Isabel são no mínimo risíveis de tão rasas e infundadas, ela se choca com o jornalista que vai a sua casa para saber mais sobre a morte do rapaz, quando ele lhe diz que vai procurar a família do morto, mas não vê nenhum mal em ela própria fazer “investigações” por conta própria, pois ela reveste suas motivações com um simulacro de moralidade. Este capítulo causa um estranhamento tão grande diante da postura e da fala do jornalista que cheguei a pensar que a trama iria engrenar e ficar mais interessante, no entanto foi só mais uma decepção.

O final do livro reserva algumas surpresas positivas pois, ao contrário do que imaginei a solução do mistério não é fruto direto das investigações mirabolantes de Isabel, ela não se mostrou uma boa detetive afinal e isso me agradou muito, assim como o desfecho da trama em si.

Enfim preciso ressaltar que o tal do clube filosófico dominical do título, não passa de uma promessa, ele é apenas citado em algumas falas do livro e nada mais, o que convenhamos é um desperdício, eu esperava bem mais do livro, fiquei com uma sensação de coisas inacabadas, ele foi um dessas promessas maravilhosas que não se concretizou.

A edição da Companhia das Letras como sempre é ótima, e aqui comento uma curiosidade, eu tenho vários livros deste gênero da editora e todos seguem a mesma linha visual, com o nome do autor numa tarja superior e com as bordas das páginas coloridas e sempre pensei que se tratasse de um coleção ou série, mas não é só mesmo a identidade visual que é assim, eu adoro.

SMITH, Alexander McCall. O Clube Filosófico Dominical. Tradução de Alexandre Hubner. São Paulo: Companhia das letras, 2007.

Travessuras da menina má

o-travessuras-da-menina-ma Travessuras da menina má (Alfaguara, tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht, 2006, 302 páginas), de Mario Vargas Llosa, é uma história de amor, um amor doentio é verdade, mas mesmo assim amor.

A narrativa se estende pela segunda metade do século XX e nos leva do Peru à Paris, Londres, Tóquio e Madri sempre no encalço dos encontros e desencontros de Ricardo Somocurcio e da menina má, nos anos 50 quando os dois se conhecem ela se chama Lily e é uma pequena ‘chilenita’ que perturba a paz das ordeiras e recatadas famílias do bairro de Miraflores, em Lima.

Na década de 60, Ricardo realiza seu sonho de morar em Paris, onde trabalha como tradutor na UNESCO, leva uma vida pacata e tranquila, mas auxiliar um amigo, com um grupo de jovens peruanos que se alistaram no MIR, grupo revolucionário que desejava dar um golpe de estado semelhante ao de Fidel no Peru, ele acaba encontrando a camarada Arlette, que não é ninguém menos que a Lily da sua infância. Com a partida da menina má para Cuba, Ricardo mergulha cada vez mais no trabalho e depois tem apenas notícias desencontradas sobre a guerrilheira e qual não é a sua surpresa quando a reencontra, em pleno saguão da UNESCO, casada com um diplomata francês e agora se chamada de madame Robert Arnoux. Mais um capítulo desta conturbada história se escreve em meio a furtivos encontros, que são bruscamente interrompidos por mais um sumiço da menina má.

Levado a Londres, nos anos 70, por causa seu trabalho, Ricardo tem mais um encontro emblemático com a menina má, que agora se chama Mrs. Richardson, e assim mais um longo pedaço desta história pra lá de perturbadora se escreve.

Depois de mais uma partida da menina má, Ricardo como sempre se joga no trabalho, e volta a sua rotina que é interrompida quando recebe carta de um amigo que está na no Japão que vem com um post scriptum assinado pela menina má. Ele se esforça até o limite e consegue ir para o Japão e lá se depara com uma ‘japonesinha’ chamada Kuriko que nada mais é do que escrava do pavoroso Senhor Fukada, em uma relação ainda mais doentia da que ela tem com Ricardo.

Chocado com tudo que vivencia em Tóquio, Ricardo volta à Paris disposto a esquecer a menina má e realmente se empenha, mas assim que ela volta a Europa, doente física e mentalmente, ele emprega todos os seus esforços em curá-la, inclusive se casa com ela, para que ela possa ser legalmente uma cidadã francesa, só para mais uma vez ser abandonado por ela.

O último encontro dos dois se dá em Madri, nos anos 90, para onde Ricardo se mudou com a jovem Marcella, uma doce italiana muito mais nova que ele. Ao descobrir que a jovem se apaixonou por um colega de teatro, Ricardo reencontra uma colérica menina má, injuriada com a “traição” de Ricardo ao se apaixonar por outra.

A menina má está gravemente doente, em fase terminal e quer passar seus últimos dias com Ricardo e assim mais uma vez vemos os dois se envolverem nessa teia emaranhada de emoções indefiníveis e que fazem deste romance uma obra perturbadora e ainda assim maravilhosa.

Llosa criou uma história que ecoa em nossas mentes dias depois de terminada a leitura, ela fica lá martelando, imagens mentais deste romance vão e vem com uma facilidade incrível, hora odiamos a menina má com todas as nossas forças, como pode ser tão cruel com quem só lhe fez bem, é pergunta mais que recorrente, hora odiamos a palermice de um apático Ricardo que se deixa manipular em nome do amor. Enfim é um romance ao qual não podemos ser indiferentes.

 

Esta leitura faz parte do desafio literário, cujo tema de maio era a leitura de um autor latino-americano. Para conferir as resenhas dos outros participantes é aqui.

 

estrelinhas coloridas…

O ladrão de raios

o-ladrao-de-raios1 O Ladrão de Raios (Intrínseca, tradução de Ricardo Gouveia, 2008, 387 páginas), de Rick Riordan é o primeiro livro da série Percy Jackson e os Olimpianos e nos apresenta a história de um garoto que descobre que os deuses do Olimpo estão vivos e que ainda tem filhos com mortais, e Percy descobre justamente que é filho de um deles e que seu melhor amigo é um sátiro.

Nesta primeira aventura, Percy é apresentado à este novo mundo completamente desconhecido, onde deuses, minotauros, centauros e muitos outros seres mitológicos estão bem ali se olharmos bem.

Em um acampamento especial para os filhos de deuses com mortais, Percy descobre que é filho de Poseidon e que isso o torna especial, pois Poseidon, Zeus e Hades haviam feito um pacto de não terem mais filhos, além desta carga Percy ainda está sendo acusado de ter roubado de Zeus o raio-mestre e precisa resgatá-lo, junto com seus amigos Grover e Annabeth e ainda descobrir seu verdadeiro ladrão antes que comece uma grande guerra.

Muita ação e desafios estão presentes na jornada de Percy e seus amigos, de encontros com Medusa e Ares até o esperado encontro de Percy com seu pai.

As referências mitológicas fazem a história ficar muito interessante, transformando a aventura de Percy em uma agradável surpresa.

 

estrelinhas coloridas…

O morro dos ventos uivantes, Emily Brontë

Ventos Uivantes - Livro O morro dos ventos uivantes (Abril Cultural, tradução de Oscar Mendes, 1971, 313 páginas), de Emily Brontë é considerado um dos grandes clássicos da literatura e conta a história do amor conturbado entre Catherine e Heathcliff. Amor é mais uma força de expressão tal a capacidade destruidora dos sentimentos dos protagonistas.

A obra é narrada em terceira pessoa, e é escrita de tal forma que nos faz querer saber o desfecho de tão sombria e conturbada história.

Tudo começa quando Heatcliff ainda menino é levado para casa pelo Sr. Earnshaw, e é “adotado” pela família, a adoção se dá apenas por parte do próprio Sr. Earnshaw e por sua filha Catherine, pois seu primogênito o odeia. O amor entre Catherine e Heatcliff é intenso porém sombrio, as personagens se rendem aos seus caprichos, e colocam outros interesses acima deste amor, que dizem ser imenso.

Catherine tem um temperamento difícil, é geniosa, mimada e egocêntrica, Heathcliff é um anti-herói em sua acepção mais plena, é rude, grosseiro e rancoroso.

Heatcliff some após ouvir Catherine dizer que irá se casar com Edgar Linton, e só volta tempos depois, instalando-se, para surpresa de todos, no Morro dos ventos uivantes, propriedade de irmão de Catherine que é seu inimigo. Lá ele começa a criar um vínculo com Hareton, sobrinho de Catherine, e ardilosamente a se tornar dono da propriedade.

A história decorre com acontecimentos tão inusitados que espantam até os mais avisados sobre as particularidades do romance, como o casamento de Heathcliff com Isabel, cunhada de Catherine e a posterior fuga dela ou então o nascimento da filha de Catherine, sem que a gravidez tenha sido mencionada uma vez sequer.

É sem dúvida uma obra magistral, com um texto primoroso e que nos mostra que mesmo que não nos identifiquemos com as personagens, ou para além disso que as detestemos podemos perceber a grandeza de um livro em cada linha, em cada palavra!

 

Se tudo perecesse, mas ele ficasse, eu continuaria a existir. E, se tudo permanecesse e ele fosse aniquilado, o mundo inteiro se tornaria para mim uma coisa totalmente estranha. (…)

Passeando por ai encontrei uma árvore genealógica dos personagens do livro, eu que adoro genealogia achei bem legal 😀

 

Wuthering_Heights_Genealogy

Essa foi a minha leitura para o Desafio Literário, cujo tema do mês de março era a leitura de um clássico da literatura universal.